segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Diário da corte

A 6 de março de 1808 a esquadra de D. João VI adentra a Baía da Guanabara. Pela primeira vez na história um monarca europeu colocava os pés em uma de suas colônias.

A nau Príncipe Real deixara Lisboa no dia 29 de Novembro de 1807, escoltada pela Marinha Britânica. A fuga de Lisboa fora motivada pela invasão iminente de Portugal pelas tropas de Napoleão. D. João VI, acuado pelo ultimato francês, optou por um acordo com os ingleses, trocando a proteção naval britânica durante a viagem para o Rio de Janeiro pela abertura dos portos e comércio do Brasil aos novos aliados.
A marinha inglesa, diga-se de passagem, era a maior e mais bem equipada do mundo, naquela época.
Era isso ou aceitar as condições de Napoleão e declarar guerra à Inglaterra, aderindo ao bloqueio continental.

Sem saber, D. João tornar-se-ia um dos poucos reis europeus a não ser destronado durante as guerras napoleônicas.

É interessante notar que se em 1807 o príncipe regente de Portugal tivesse se aliado à França ao invés da Inglaterra, provavelmente teríamos nos tornado uma colônia inglesa. Isto porque como retaliação, a Inglaterra poderia ter atacado Lisboa pelo mar, como fizera com Conpenhague na Dinamarca, que capitulou em 5 dias.
Além disso, muito provavelmente teria tomado suas colônias ultramarinas (Francamente... às vezes teria sido melhor)

Em contraposição ao reino de D. João no começo do Século XIX, completamente dependente de suas colônias para sobreviver - Portugal já  tinha uma dependência completa do Brasil, de onde vinham o ouro, o fumo e a cana de açucar, eixo de suas relações comerciais -, um império decadente que nem de longe lembrava a glória dos tempos de Vasco da Gama e Pedro Alvares Cabral, 300 anos antes, Inglaterra e França eram as maiores potências econômicas e militares do mundo.

No final, a estragégia de aliar-se à Inglaterra garantia a D. João a manutenção da coroa e das colônias, ao mesmo tempo. Para um rei indeciso e medroso, até que a cartada não foi nada má. Ele enganou ninguém mais ninguém menos que Napoleão Bonaparte, “o mais poderoso sopro de vida humana que havia passado pela face da terra”, o monarca da Europa.

A corte chegou ao Brasil empobrecida, algo entre 10000 e 15000 portugueses ávidos pelas benesses do rei. “Os novos hóspedes pouco se interessavam pela prosperidade do Brasil. Consideravam temporária a ausência de Portugal e propunham-se mais a enriquecer à custa do Estado do que administrar justiça ou beneficiar o público”, notou o historiador John Armitage.

Pior para nós, que herdamos os hábitos de uma corte perdulária e corrupta da qual, infelizmente, não conseguimos nos livrar até hoje.

Mais de 200 anos se passaram.
A elite política e econômica do país continua agindo e pensando como os colonizadores, como os garimpeiros, independentemente de coloração partidária. Mentalidade da corte, "mentalidade de garimpeiro".
Atavismo, talvez.
E o Brasil permanece o país das benesses, sinecuras, privilégios, como na época da colônia.
As vantagens não estão mais nas mãos de um rei, sua corte (será???), mas estão em Brasília. Tirando isso, nada mudou. Os que se utilizam da corrupção e promiscuidade com o poder continuam todos os dias usurpando o país, em todas as esferas do executivo.
E é bom que se diga: o pior inimigo do Brasil é o Brasil. Toda aquela escatologia esquerdopata do século passado só serve para tirar a responsabilidade de nossas mazelas e índole corrompida para terceirizá-la num imperialismo externo, bode expiatório para os desmandos dos verdadeiros colonizadores e usurpadores, nossos patrícios.
O inferno é aqui, e tem nome de partido político. Na verdade, de vários.

Brasil, um país para todos???
“Para todos eles, atravacando nosso caminho...”
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Bibliografia:
Gomes, Laurentino. 1808. 2. edição. São Paulo : Editora Planeta do Brasil, 2007.

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