sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Crônicas do mato. #4: "Rapidinhas..."

4.1 - O primeiro militante contra a homofobia em Minas

Minas Novas, na década de 50, era o município composto pelos distritos: Minas Novas, Berilo, Chapada, Francisco Badaró (ex-Sucuriú) e Leme do Prado (ex-povoado de Gomes).
Não consegui levantar a população da época. Atualmente, o município é constituído por 5 distritos: Minas Novas, Baixa Quente, Cruzinha, Lagoa Grande de Minas Novas e Ribeirão da Folha. A populaçao é de 30.803 habitantes.
Num cálculo grosseiro, diria que a população era bem menor. Somente no distrito de Minas Novas, talvez vivessem entre 4 e 11 mil habitantes. Levando-se em conta que eram os anos 50, em Minas, com todo seu provincianismo e carolismo históricos, tinha que ser macho pra fazer o que o cabra fez. Mas esse é o ponto: ele não era.

Desceu a rua da ponte velha com Tião o seguindo uns 2 metros atrás. Não levantaram suspeitas. Chegando à ponte, viraram à esquerda, no caminho para o rio, antes de atravessá-la. Se postaram quase debaixo da ponte, por entre uns arbustos. Talvez pela "taradeza" exagerada foram descuidados. E Tião iniciou o coito com o companheiro meio que debruçado por sobre uma pedra. Vai, vem, vai vem...
Alguns minutos e alguém passando em cima da ponte avistou aquilo. Começou então a "latumia" de insultos:
- Vagabundo, sem vergonha!!!
- Viado. Bicha fdp...
- Vou chamar a policia seu desavergonhado. Vira homi...

E o cabra interrompeu Tião:
- Tião, "fofa" ai Tião...Deixa eu xingar aquele povo ali - Tião obedeceu, recolhendo o mangote e segurando-o nas mãos.
O cabra puxou o calção e se afastou um pouco até poder ver quem o insultava:
- Vão pra pqp...Tô dando o que é meu. A b.. é minha e dou a hora que eu quiser. Vão cuidar das suas vidas, seus fdps, @#$%@&%#@%#$&^%$@...

Pareceu funcionar porque os detratores seguiram caminho, minutos depois. Então o cabra voltou, arriou o calção e, se apoiando na pedra novamente, soltou convicto:
- "Mete o ferro" Tião!!! - no que foi prontamente atendido por Tião, cego por sua libido sem pudor, ou preconceito.

4.2 - "E se ele caísse ali e morresse?"

Dois matutos vindos da roça a cavalo pararam no top, perto do "campo de aviação". O matuto #2 fora acometido por uma dor de barriga incontrolável e precisava descarregar. Procurou uma moita, a mais adequada, arriou as calças e começou os trabalhos, se distraindo com um pedaço de graveto a perscrutar o chão batido à sua frente. Entre sons e odores estranhos, deparou-se com uma pedra amarelada, que cavucou e retirou da terra mais que depressa. Era uma pepita de ouro... até certo ponto comum naquela época. Entusiamou-se! Arrumou-se arribando as calças e mostrando logo depois a pepita ao companheiro de viagem. Ai começou a pendenga...
- Pois é cumpadre. É meio a meio.
- Não sinhor cumpadre. Fui eu que achei. É minha.
- Mas nóis tá aqui é juntos, uai.
- Não, eu achei e é minha. Si ocê tivesse achado era sua, uai.

E a pendenga se arrastou pela légua que faltava, coisa de quase uma hora, até que os dois chegassem à venda do Zé camargos, comprador do ouro e à quem a pendenga seria apresentada para resolução.

- Seu Zé Camargos, num é por certo que o cumpadre meie a pepita cumigo? Pois eu tava cum ele lá na hora sô.
- Mas fui eu que achei no mato. Tem disso não sinhô.

Zé Camargos, justo, pontuou:
- Pois é, foi ele que achou. É dele mesmo.

Mas matuto mineiro é tinhoso...tem nada de matuto...matuto não.

- Mas sunta só: e se ele caisse e morresse? Quem era o responso???

Zé Camargos desconcertado, concordou com um movimento de cabeça e um riso nos lábios:
- É cumpadre. Acho que o outro cumpadre tá é certo. Divide esse lucro ai com ele. Tem jeito não.

O outro cumpadre cedeu. Matuto mineiro não é muito de briga. "Negoceia..."
No finar "foi justo, muito justo...justíssismo."

4.3 - Mecânico "profissonal"

Zé de Aristides terminou o conserto da caixa de marchas do Jipe 64 do seu Dimas. Levou então o carro para o dono, que infelizmente, não se encontrava no cartório àquela hora. Avisou o funcionário e tomou o rumo de volta para a oficina.
Lá pelas tantas, final da tarde, aponta seu Dimas na oficina.
- Zé, mas o que foi isso?
- Isso o quê?
- O carro só anda de ré. Fábio (o caminhoneiro mais famoso e bem sucedido da cidade) me disse que você montou errado a caixa do Jipe.
(...)
Montara a caixa, inacreditavelmente, ao contrário, sabe-se lá Deus como. O fato que é todas as marchas eram a ré. Primeira: ré. Segunda: ré, terceira: ré. Acertara uma: a ré era mesmo a ré. 25% de sucesso, embora o Jipe tenha se tornado de uma nota só.
E Zé, já debaixo do carro vasculhando o que dera errado, notou os pés de seu Dimas se distanciando, deixando a oficina. Se esqueirou pra fora do assoalho do jipe e levantou-se, sacudindo a terra vermelha da oficina:
- Calé Fabeca calé Dimeca calé nada... Eu sô é profissonal !!!- alardeou para os outros à sua volta invalidando seu Dimas e Fábio.

É... Até certa forma era mesmo profissional...embora fosse o profissional errado, naquela situação.

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