Um sujeito de uns 27 anos, alto, magro, com uma cabeleira que misturava o espetado gumex Punk com o despojo simulado do “mauricinho” de classe média alta. Seu jeito trôpego, embora parecesse forçado à primeira vista, era absolutamente natural. A pele clara e bem tratada denunciava sua condição de rebelde de laboratório, um tipo de inconformado mal dissimulado. Sua moda juntava camisas de algodão e gola padre com calças de puro linho, engomado, compondo assim, sua personagem de guerrilheiro moderno contra as “mesmices” e injustiças do mundo. Vestia-se meticulosamente. Considerava sua aparência como uma linguagem cuja semântica estabelecesse o perfil de sua personalidade e intenções. Não mais que um lugar comum na prosa oca do mundo fashion.
Tinha a fala mansa, a voz muito grave, e conversava pausadamente entrecortando as frases com a respiração, fazendo caras e bocas como quem está compondo um pensamento extremamente profundo e exaustivamente estudado. Nessas ocasiões, forçava um olhar que insinuasse lucidez, arregalando os olhos e lançando-os contra seu interlocutor com certa dose de voracidade. Eu já vira daquele olhar em outras pessoas, umas loucas, outras suspeitas como Arnaldo.
Considerava a si próprio um artista multimídia, desses que enveredam inconsequentemente pela música, literatura, teatro, televisão e cinema com a maior intimidade. Seu estilo, por si só, já denunciava seu maior talento: o de esconder sua embaçada criatividade e inspiração irrelevante sob o manto da vanguarda, parcialmente incompreensível por estar além de seu tempo.
Comungava do apoio frenético da imprensa. Suas frases eram esteticamente tão confusas quanto improváveis. O estilo de sua obra era passageiro, tão minimalista que minimalista demais. Poucas palavras se confundindo com falta de palavras.
Sempre achei as críticas a respeito de sua obra mais relevantes que a própria obra. Eram verdadeiras apologias a respeito de nada. Palavras e palavras tentando dar sentido, forma ao vazio. Era um poeta com a originalidade forjada pela crítica especializada.
Essa tal arte, para mim, mero subterfúgio para justificar tolices vanguardistas que alguns arrogantes criavam sob o pretexto preconceituoso de superioridade. Manifestações artísticas carregadas de prolixidade, sofismas, ininteligíveis. Mas a exemplo do que acontece com as deidades, a imprensa especializada fazia com que o incompreensível vindo delas ganhasse o status de sublime.
Em suas entrevistas entremeadas de frases desconectas - mas nem por isso menos pomposas, massageava seu ego com um ar de superioridade e tédio quando o entrevistador, perdido na cortina de fumaça de sua retórica, reagia como um discípulo diante de seu Mestre. Patético.
(...)
Warhol acertara: "In the future everyone will be famous for fifteen minutes". Ele próprio um embuste, a vida toda.
O futuro chegara...e não era mais belo que o passado.
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