A paisagem não é mais a mesma. Como eu, o lugar também envelheceu, e mudou. Não vejo mais as ruas da minha juventude, os rostos familiares. São outros os donos de hoje. Usam roupas estranhas, ouvem músicas insólitas em seus carros "tunados", o grave desequalizado simulando um tambor gigante, enlouquecedor. Tremem os vidros, alguns alarmes disparam. Imagino só possível a dirigibilidade com protetores de ouvido. Seria absurdo sem eles, a menos que se quisesse estourar os tímpanos.
Talvez não. Darwin e sua teoria da evolução explicariam a mudança dos tímpanos nos últimos 40 anos. São tão duros como o nitreto de boro. O que a NASA gastou anos e milhões em pesquisas meus conterrâneos obtiveram pela seleção natural. São tímpanos "tunados", compatíveis com os carros.
Já para o repertório necessitar-se-ia de algo mais elaborado. Massificação, imbecilismo. Pronto. Aptos para ouvir as rimas do funk, a poesia do breganejo, a batida dos DJs. A música de hoje é como um menu de restaurante: axé à bolonhesa, sertanejo universitário à parmegiana...
Não há o que pensar. É só por algo no som, aumentar o volume e desfilar como o arauto dos novos tempos. O próximo passo talvez seja se comunicar por grunhidos e namorar raptando a amada com uma paulada na cabeça.
Estaremos de volta ao planeta dos macacos, então.
Aguarde, em breve será só pau e pedra.
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