segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Contenda

Vislumbrou afoito seu desafeto vindo na mesma direção. Esforçou-se para focalizar a visão já gasta e certificar-se do rosto, se era mesmo o do Jurabé.
Descompassado, o coração refletia sua arritmia por todo o corpo: mãos trêmulas, sudorese, passos trôpegos, respiração ofegante.

Na passagem da Praça Quintino Oliveira o vulto sumiu por detrás da estátua do patrono. Altino parou, meio que para prolongar a sensação de término do problema, como se o Jurabé efetivamente tivesse desaparecido de sua vida por obra daquele monumento de bronze.

Viu seus primeiros dias em Arcabouço florescerem da memória com um aroma doce, sua primeira impressão daquele arraial, vibrante como o portal do resto de sua vida.
Porém, o tempo é breve, e o Jurabé ressurgiu mais amedontrador e tácito por detrás da estátua. Era mesmo ele, sem dúvida alguma.

Caminhou...
O medo se fora agora, talvez pela proximidade ou pelo curso inevitável do destino. Altino já nem via mais o Jurabé com a mesma estatura, não era mais tão alto assim.
Já não respirava com dificuldade, nem andava com a mesma indecisão.
De repente, não ouvia mais nada e seus olhos tornaram-se o único parâmetro de sua existência.

A hora chegara. E fosse lá o que fosse, já não considerava outra alternativa. Era imperativo encontrar seu futuro naquele desfecho do qual, todavia, nenhuma solução parecia-lhe suficiente.
Dobrou sobre si mesmo e encarou o derradeiro confronto.

O Jurabé, antecipando-se, pulou com a faca em punho. Desperto, Altino esquivou-se, mas não sem um rasgo por sobre a camisa terminado num corte tranversal no peito.
Seu sangue verteu abundante vermelho, ensopando rapidamente o linho branco.

Não sentia nada. Puxou a peixeira e aguardou o segundo golpe, que veio rápido, porém menos certeiro que o primeiro. Numa outra dobra fez com que o Jurabé estocasse em branco, passando no vazio e oferecendo-lhe as costas nuas. Não exitou.
Viu a trilha de sangue. Ambos agora tinham a mesma cor, intolerância.

Por segundos tentou resgatar porque chegara até ali... em vão.
Pensou em Suzana, em suas coxas grossas por debaixo do vestido de chita, seus seios fartos e... só acordou do transe com uma estocada na barriga, da qual seguiram-se outras... tantas.
Sucumbiu, ainda a tempo de ver o Jurabé voltar-lhe o olhar febril e um sorriso de ódio, dissipando-se, logo depois, como que numa bruma leve.

Altino não via mais nada, só sentia o cheiro de mangaba, de rio, de cerrado, de Suzana.
Morria então pela segunda vez, sem a dor, sem o arrependimento da primeira. Lavava em seu próprio sangue a culpa, já velha, esgarçada pela saudade de Suzana.

Acalmou-se. Era o fim...
Fim de seus medos, angústias, de seu penar solitário, da saudade entorpecente que fizera dele apenas um fantasma de si mesmo.

Diário da corte

A 6 de março de 1808 a esquadra de D. João VI adentra a Baía da Guanabara. Pela primeira vez na história um monarca europeu colocava os pés em uma de suas colônias.

A nau Príncipe Real deixara Lisboa no dia 29 de Novembro de 1807, escoltada pela Marinha Britânica. A fuga de Lisboa fora motivada pela invasão iminente de Portugal pelas tropas de Napoleão. D. João VI, acuado pelo ultimato francês, optou por um acordo com os ingleses, trocando a proteção naval britânica durante a viagem para o Rio de Janeiro pela abertura dos portos e comércio do Brasil aos novos aliados.
A marinha inglesa, diga-se de passagem, era a maior e mais bem equipada do mundo, naquela época.
Era isso ou aceitar as condições de Napoleão e declarar guerra à Inglaterra, aderindo ao bloqueio continental.

Sem saber, D. João tornar-se-ia um dos poucos reis europeus a não ser destronado durante as guerras napoleônicas.

É interessante notar que se em 1807 o príncipe regente de Portugal tivesse se aliado à França ao invés da Inglaterra, provavelmente teríamos nos tornado uma colônia inglesa. Isto porque como retaliação, a Inglaterra poderia ter atacado Lisboa pelo mar, como fizera com Conpenhague na Dinamarca, que capitulou em 5 dias.
Além disso, muito provavelmente teria tomado suas colônias ultramarinas (Francamente... às vezes teria sido melhor)

Em contraposição ao reino de D. João no começo do Século XIX, completamente dependente de suas colônias para sobreviver - Portugal já  tinha uma dependência completa do Brasil, de onde vinham o ouro, o fumo e a cana de açucar, eixo de suas relações comerciais -, um império decadente que nem de longe lembrava a glória dos tempos de Vasco da Gama e Pedro Alvares Cabral, 300 anos antes, Inglaterra e França eram as maiores potências econômicas e militares do mundo.

No final, a estragégia de aliar-se à Inglaterra garantia a D. João a manutenção da coroa e das colônias, ao mesmo tempo. Para um rei indeciso e medroso, até que a cartada não foi nada má. Ele enganou ninguém mais ninguém menos que Napoleão Bonaparte, “o mais poderoso sopro de vida humana que havia passado pela face da terra”, o monarca da Europa.

A corte chegou ao Brasil empobrecida, algo entre 10000 e 15000 portugueses ávidos pelas benesses do rei. “Os novos hóspedes pouco se interessavam pela prosperidade do Brasil. Consideravam temporária a ausência de Portugal e propunham-se mais a enriquecer à custa do Estado do que administrar justiça ou beneficiar o público”, notou o historiador John Armitage.

Pior para nós, que herdamos os hábitos de uma corte perdulária e corrupta da qual, infelizmente, não conseguimos nos livrar até hoje.

Mais de 200 anos se passaram.
A elite política e econômica do país continua agindo e pensando como os colonizadores, como os garimpeiros, independentemente de coloração partidária. Mentalidade da corte, "mentalidade de garimpeiro".
Atavismo, talvez.
E o Brasil permanece o país das benesses, sinecuras, privilégios, como na época da colônia.
As vantagens não estão mais nas mãos de um rei, sua corte (será???), mas estão em Brasília. Tirando isso, nada mudou. Os que se utilizam da corrupção e promiscuidade com o poder continuam todos os dias usurpando o país, em todas as esferas do executivo.
E é bom que se diga: o pior inimigo do Brasil é o Brasil. Toda aquela escatologia esquerdopata do século passado só serve para tirar a responsabilidade de nossas mazelas e índole corrompida para terceirizá-la num imperialismo externo, bode expiatório para os desmandos dos verdadeiros colonizadores e usurpadores, nossos patrícios.
O inferno é aqui, e tem nome de partido político. Na verdade, de vários.

Brasil, um país para todos???
“Para todos eles, atravacando nosso caminho...”
_____________________________________________
Bibliografia:
Gomes, Laurentino. 1808. 2. edição. São Paulo : Editora Planeta do Brasil, 2007.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Jurisprudência - Súmula vinculante

Pergunta ingênua: e se por um erro de cálculo nós devêssemos 7 bilhões às concessionárias de energia elétrica desse país? (A cobrança  indevida real foi causada por um erro no cálculo dos reajustes da tarifa de luz entre 2002 e 2009 e resultou em R$ 7 bilhões a mais para as companhias distribuidoras de energia elétrica).


O veredicto da Aneel teria sido o mesmo???

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Como tirar 7 bilhões de nossos bolsos

O TCU recomendou o ressarcimento. A Aneel disse NÃO.
Nós??? Pagamos a conta: R$ 7.000.000.000. Calados.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/865775-aneel-nega-devolucao-de-r-7-bilhoes-pagos-a-mais-por-energia.shtml

PS A diretoria da Aneel é indicada pelo Presidente da República e chancelada pelo Senado.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Remexendo baús

Hoje remexi um baú de onde sairam coisas que havia tempos esquecera terem sido feitas, escritas. Cartas...
Entrevistas de gente que se foi, de gente... gente...

Vi Vera Magalhães numa entrevista antiga. Visceral. Não há como não gostar dela após ouví-la dissecar o passado, sem pudor.

Entrou para a memória coletiva por conta de uma façanha: o sequestro do embaixador dos Estados Unidos da América, Charles Burcke Elbrick, a 4 de setembro de 1969. Era, então, a Dadá, da Dissidência Comunista da Guanabara, mais conhecida como MR-8, ou apenas "Loura dos assaltos" ou "Loura 90" (porque nas ações estava sempre armada com duas pistolas calibre .45. Fato desmentido por ela, que usava um 38).
Morreu em 19 de Dezembro de 2007.
Porém, a entrevista me chocou.

Transcrevo abaixo um artigo do Marcelo Mirisola para o 'congresso em foco':
_________________________________________________________
17/08/2009 - 08h12
Vera Silvia Magalhães. Pra quê?

Marcelo Mirisola

Ontem, zapeando nos canais comunitários (acho que foi na Tevê Câmara), deparei com uma senhora divertida e meio inchada. No começo, achei que era uma maluca. Então piscou o crédito, fulana de tal... não consegui ler o nome, “ex-guerrilheira”. Como assim? Como é que alguém pode ser “ex-guerrilheira”?

Seria a mesma coisa que dizer que fulano deixou de ser albino. Ou, sei lá, acreditar que aquela psicanalista do Rio de Janeiro realmente “cura” gays e os transforma em papais de família gelol exemplares. Ou pior. Acreditar que um Zé Dirceu da vida pode virar um Zé Dirceu. Bem, nesse caso, trata-se de trapaça pura e simples. Considera-se apenas a hipótese do mau-caratismo, descarta-se a transcendência.

O que absolutamente não era o caso de Vera Silvia Magalhães. No decorrer da entrevista, eu vi que de fato erraram no crédito. Aquela mulher jamais deixaria de ser uma guerrilheira. Uma mistura de doçura com desgraça, e um bom-humor desconcertante que acabou me hipnotizando. Ela sim, transcendeu a si mesma. Porque ficou no mesmo lugar.

Antes de continuar, e antes que alguém confunda alhos com bugalhos, quero dizer que Vera Silvia embarcou numa canoa furadíssima desde sempre. Aliás, ela mesma reconheceu isso na entrevista. Pois bem. Acho que ficou claro que nada tenho a ver com o credo e a ideologia dela. Apenas estou falando de qualidades raras hoje em dia: coragem, integridade, caráter, doação. Entregar a vida em função de algo que se acredita maior. Se esse algo era uma estupidez, se a idéia era uma idéia de jerico, aí já é outro papo. O que me chamou a atenção em Vera é que ela não viveu uma vida em vão – não se omitiu. E só isso, diante da babaquice generalizada que vivemos hoje em dia, já é mais do que o suficiente para levantar e aplaudi-la, e pedir bis a Vera.
Aí vocês diriam: Pol Pot e dr. Mengele também desfrutaram de uma vida plena. E eu serei obrigado a concordar, porém sou obrigado a fazer uma ressalva: não foi nem Pol Pot, nem dr. Mengele e nem o Homem do Sapato Branco que eu flagrei numa entrevista na tevê comunitária.

Vamos lá.
Vera, uma linda garota, era filha da alta classe média carioca, aos vinte anos largou Ipanema, o violão e o barquinho e aderiu à luta armada. MR-8. Anos 60,70. No decorrer da entrevista, ela foi recordando passagens que incluíam assaltos a bancos e carros-fortes, amores, seqüestros, assassinatos, torturas brutais, exílio e desolação, sangue frio, muita ação e o quase ingênuo reconhecimento da derrota. As seqüelas eram visíveis nela. Alguns nomes famosos começaram a brotar do relato. Franklin Martins ( que na época da entrevista ainda era comentarista da Rede Globo),Gabeira , Marighella. Do outro lado,o delegado Fleury e os torturadores, dentre eles um psiquiatra cujo nome agora não me recordo e que, anos depois, acabou sendo defenestrado pelos colegas de profissão, e ela, Vera Silvia Magalhães, a única mulher que participara do bem sucedido e cinematográfico seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick,em setembro de 1969.

Numa parte da entrevista, ela confessou que jamais se imaginou empunhando uma arma. Logo ela, que ficou conhecida como “A loura 90 - um 45mm em cada mão”: a mulher que não traiu sua vocação, eis o ponto.

E eu do lado de cá da tela completamente sem ar, atordoado com as histórias daquela senhora que realmente só poderia ser uma maluca porque, além do bom humor, conservava a esperança e a razão. “Os loucos são aqueles que perderam tudo, menos a razão”(Chesterton).

Os relatos se sucediam. Os fantasmas envolvidos, tanto os mortos como os vivos, irrompiam daquela montanha-russa que foi a vida de Vera Silvia, ela comentava item por item, lembrava com dor e desdenhava da dor, atravessava as lembranças como se fossem uma sessão de tortura que não acabaria nunca mais, suas mãos tremiam e o cigarros eram tragados como se fossem a vida da própria Vera, sugada por ela mesma. Num só momento ameaçou soluçar, mas – como guerrilheira de fato - agüentou o tranco: foi na hora que revelou que só lhe haviam deixado uma lembrança do amor de sua vida, apenas uma foto de Jose Roberto Spigner, “aquele ali na estante”. O resto – dizia Vera: - “levaram tudo”.

Os estudantes enquadrados em Ibiúna, Wladimir Palmeira... a passeata dos cem mil, as panfletagens, os aparelhos que caíam. O País em transe. Um monte de equívocos. Mas nada foi de graça. Para ela, não.

Em 1972, eu tinha seis anos de idade e assistia os desenhos de Hanna & Barbera, e agora – quase quarenta anos depois - me pergunto, perplexo: mas que cazzo fizeram com a biografia dessa mulher?

Tudo bem, biografia é algo inalienável. No entanto, eu tenho a nítida sensação de que Vera Silvia Magalhães continua – até hoje – a ser usurpada. Em vida foi barbarizada pelo regime militar. Morta, continua sendo barbarizada - dessa vez pelos seus “herdeiros”: que defecam no seu túmulo e cospem na sua memória.

A propósito. Lembro de uma crônica de Fernando Gabeira ( antes de ele mandar a filha surfar no Hawaí com dinheiro público) escrita no auge da crise do mensalão. O deputado e ex-marido de Vera Silvia, dizia com todas as letras que os militares jamais pediriam sua alma por sabê-la irrecuperável. Alma de terrorista, acreditavam os milicos. Nesse mesmo texto, Gabeira – comparando aqueles tempos com o Brasil do Lula – agradecia à deferência dos torturadores por o terem tratado como a um inimigo. Porra! Alma não se negocia!

Mal comparando: é a mesma coisa que – depois de todos esses anos - eu renegar o sorriso cínico do Mutley; é a mesma coisa que trair o amor de Penélope Charmosa com uma mulher melancia qualquer da vida. Cada um – afinal - acredita nas bobagens que lhe cabe e tem a alma que merece.

Não é possível que essa mulher tenha se arrebentado inteira em vão. Vera Silvia definitivamente não pegou em armas e não sofreu o resto dos seus dias as conseqüências de seus atos, desde crises renais agudas e sangramentos constantes nas gengivas até surtos psicóticos violentíssimos – entre um cigarro e outro acendido como se fosse o último - para ver o Greenhalgh advogando pro Daniel Dantas, nem para testemunhar Aloizio Mercadante escondido em seu gabinete com vergonha de encarar Zé Sarney defendendo o empreguinho do gigolô da neta querida. Hoje, "os companheiros" de Vera Silvia "atuam" no mesmo diapasão desse tipo de gente. A tribuna de Sarney é a mesma de Mercadante ... que a ocupa por conta do quê e de quem?

Ou será que Vera Silvia Magalhães teve suas unhas arrancadas por fidelidade ao “companheiro” Renan Calheiros? Ou teria passado três meses sendo estuprada a fim de garantir renúncia fiscal para os organizadores do torneio de hipismo de Athina Onassis?

Alguma coisa está errada no Brasil. Eu nunca fui petista, a última vez que votei foi na eleição que Jânio Quadros ganhou a prefeitura de São Paulo de Fernando Henrique Cardoso, professor de Vera no exílio, aliás. Mas a pergunta é: quem são os herdeiros de Vera ? O que esses PuTos fizeram com a biografia “inalienável” de Vera Silvia Magalhães?

Em 1970, o DOI-CODI do Rio de Janeiro, baseado num quartel da Polícia do Exército na Rua Barão de Mesquita, aqui na Tijuca, não era exatamente um SPA. Ela não levou um balaço na cabeça e do semi-coma da UTI não foi jogada nos porões desse aprazível lugar e saiu de lá com 38 kg direto pro exílio para ver o Genoino dizendo que não tinha nada a ver com os dólares escondidos na cueca do irmão. A vida que Vera Silvia viveu não tem nenhum ponto de encontro com os afagos e beijinhos trocados entre Zé Sarney, o senador Fernando Collor de Mello e o presidente Luis Inácio Lula da Silvia. Ou tem?

Caramba! Vera Silvia foi eletrocutada, afogada, dependuraram ela no pau-de-arara, zoaram ela todinha, de dentro pra fora e de fora pra dentro. Para quê? Pra ouvir o Suplicy, depois de um rolo compressor ter passado sobre Pedro Simon, cantar Cat Stevens no plenário? Pra chancelar as mentiras de Dilma Rousseff ?

E Celso Daniel, o prefeito de Santo André, teria morrido por que também entregara sua vida a uma causa ridícula? E todos os outros mortos? Será que a vida deles foi tão equivocada que não vale mais do que um carteado sombrio num Solar de São Luiz do Maranhão?
Vale quanto, Ziraldo? Tenho apenas uma certeza. Vera Silvia Magalhães, e todos os outros que morreram em combate, sim, porque a guerra não tem fim para um guerrilheiro, vão cobrar sua parte. A indenização é outra. E eu, sinceramente, não queria estar na pele dos “operadores” para dar satisfações a ela. Nem aqui, nem no outro mundo.
____________________________________________________

Os "heróis do povo" de hoje não têm nem um décimo da dignidade dessa mulher.
Pior, continuam vivos.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Antinomias

Paradoxo de Russell
M é o conjunto de todos os conjuntos que não pertencem a si próprios.
M pertence a si próprio?
Se M є M, então M pertence a um conjunto que contém a si mesmo, o que está em contradição com a definição de M.
Se M, então nem todos conjuntos que não pertencem a si mesmos pertencem a M, o que também está em contradição com a definição de M.

(...)

Um dia soube cálculo proposicional. O Cícero, fascinado com os fundamentos da matemática e os trabalhos de Russell e Wittgenstein na Lógica me ensinou.
Esqueci, depois de mais de 20 anos.

O paradoxo acima iniciou a "crise dos fundamentos" da Matemática do século XX.
Cícero divagou sobre o assunto num artigo para o Estado de Minas em 1998 (http://www.gregosetroianos.mat.br/Reports/EM.htm).
Algum tempo se passou. Não sei mais a quantas anda a matemática e a busca pela redução aos fundamentos.

Na física o modelo padrão foi "ajustado" com a "energia escura" em 1998. Em 2004, David Gross, David Politzer e Frank Wilczek receberam o prêmio Nobel pela teoria que explica uma propriedade bizarra dos quarks (quando a distância entre dois quarks diminui, sua interação fica paradoxalmente cada vez mais fraca) conhecida como liberdade assintótica.
Em física teorias são revisadas às pressas, parâmetros são reajustados todas as vezes que um experimento mostra algo divergente do proposto na teoria.
Experimentos podem confirmar uma teoria, mas não refutá-la.
Mas a 'teoria unificada' continua ainda um sonho.

(...)

Século XXI. As lacunas sobre a origem do universo foram espremidas e a cosmologia tem uma compreensão bastante razoável sobre nossa origem. Deus, teimoso, ainda habita tais lacunas, embora cada vez mais desconfortável.

A fé é mesmo cega... e a faca amolada.
O paradoxo aqui é porque Waldemiros, Soares, Malafaias, Macedos, Marcelos, conseguem expoliar tanto, oferecendo nada???
É um show de horrores improvável que vai desde a venda de milagres à irascibilidade e coerção direta. 

(...)

A matemática possibilitou a equação de Dirac, que introduziu teoricamente o conceito de antipartícula, confirmado experimentalmente pela descoberta em 1932 do pósitron.
As pesquisas com plasma na física possibilitaram a utilização de filtros a plasma com eliminação de 90% de gases poluentes de veículos automotores.
No começo de 2005, o sucesso da venda dos televisores de plasma, em função da altíssima resolução que possuem (HDTV), tornou a tecnologia atrativa e economicamente importante.

Agora você pode ver os "paralíticos andarem", os "cegos enxergarem" nos cultos dos "apóstolos". Tudo em high definition, na sua TV de plasma.
Santa... ciência!!!

Não falo mais...

Aviso aos navegantes: não falo mais de política até "que legalizem a corrupcão".

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Taiguara - Piano e Viola (1972)


Embora redundante (Skylab - doido varrido - postou essa em seu blog), vale, vale demais...


Brega é o cacete!!!
Brega é o Nelson Motta.

“A full body rub” in my english

Reading the last post of a buddy's blog, I've faced again my english limitation due to lack of words in my bucket. You would imagine at first that this may have been frustrating. You're mistaken, though. Of course I had to read twice, also with Google Translator by my side, but that's the point. It's 'strikingly' stimulating to bring more meanings wearing new words closer to your vocabulary box. Now I can say 'chunks' instead of pieces, or say politely that something/someone 'irked', instead of saying pisses me off. I can also mention 'quipped', rather than kidding.

'Sniggering' is something else. I risk saying that this mordacity is typical in England. It's a cultural gift. That's why Swift, Russell, and even Monty Python have done so much using irony as the spice for "rattle some chains".

I can even imagine his sneer when handling on purpose some speeches during training sessions. To be honest, my whole life I was influenced by this kind of humor. Could also mention Voltaire and more some brazilian writers such as Millôr, Francis, Mainardi as examples. Can only understand people noticing something stupid, ridiculous about themselves, if you 'piggy-back' them with their image in a "taunting mirror". Of course, after the anger, they may start thinking... or not. Anyway, sarcasm always was one of my preferred style.

This guy motivated me to run my own blog and now keeps giving me many ideas. It's a pitty that we've never had the chance to chat informally in a non-work enviroment, as a Pub, with beers hydrating the talk.

Anyway, I'm always going back to Planet Manuel to see if there's something new that I could use here... at Mars. And it's pretty likely that I'll be back with my 'happy ending'.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Epíteto

Para ZéMota

Amei um filho de forma desesperada, mais que a mim mesmo. Talvez minha projeção, o que gostaria de ter sido, feito... não sei.
Não pressionei, porém. Como poderia? Minha ascenção findara há tempos, após sua emancipação intelectual, da qual sucumbi, impotente. Não sei do que fala agora. Capto aqui e ali, e só. Não quero mais saber, não há tempo.
Nem sei o que vai mal. Perdi o senso na dúvida de quanto tempo ainda temos, em seu e meu passado de erros, acertos, futuro incerto e impresente. Tantos conflitos tolos, como tolos são todos os conflitos.
Eu mesmo uma amálgama de pequenas vicissitudes, perjúrios e pobreza. Um jagunço errante em assuntos de paternidade e psicologia. Acho que não saberia ter feito melhor. É tudo o que vejo, ou via.
Mas cá estou passando a limpo minhas escolhas... sempre há tempo. Amei, amo. Basta!!!
O tempo só existe porque é o parâmetro necessário para medirmos as mudanças. Sem elas o tempo seria inútil, uma contagem insípida e inócua.
Que tenha tempo de vivenciar meu neto, seus júbilos.
De meu filho só quero o abraço, o calor e a presença. Nada mais.

"E o meu medo maior é o espelho se quebrar"[1]
__________________________________
[1] Espelho - João Nogueira, Paulo César Pinheiro

"Phrases e aphorismos"

"Escândalo dos Passaportes Diplomáticos expõe drama familiar: filhos de Lula são feios pra cacete."
Renzo Mora

"A democracia muitas vezes significa o poder nas mãos de uma maioria incompetente."
George Bernard Shaw

"Ou acabamos com a corrupção neste país ou não me chamo Jader Barbalho."
Millôr

"O público é uma besta feroz. Deve-se enjaulá-lo ou fugir dele."
Voltaire

"A maior parte das pessoas prefere morrer a pensar; na verdade, é isso que fazem."
Russell

"Todas as cores concordam no escuro."
Francis Bacon

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Mais um dia de fúria

Leu uma entrevista improvável e inócua do Mano Brown no UOL. Ligou a TV e zapeando foi morto um sem número de vezes por noticiários mediados como reality shows, escatológicos, dramalhões mexicanos em tempo real. Voltou ao PC e se inundou de pornografia. Culpou Freud e Nelson Rodrigues, não sem antes se masturbar freneticamente como que para afogar no gozo o raso de sua pátria. O prazer insano e solitário era lenitivo breve, porém. "Inês é morta". Queria ser Darcy Ribeiro, falar o Brasil quase sem pausa, sem ar. Não conseguia. Tinha nojo, da pátria, de si mesmo.
Pegou as chaves do carro e saiu, sem rumo. Rádio ligado e Edu canta Torquato. Pra dizer adeus.
Como Torquato, quis dizer "pra mim chega!!!", se matar. Não disse.
Continua solto por ai, como um zumbi de si mesmo.
Morto-vivo como um Caetano, só que com menos sono.
Queria dormir o dia inteiro. Não dormiu.
Skylab de suas próprias sandices, poemias. Talvez fruto da fúria de 27 anos num banco, do Brasil.
Como Medaglia também queria uma música impopular. Não teve.
Queria não ser famoso.

É tarde... não conseguirá.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Bombas ou bombinhas

Padrões de comportamento trancesdem a autonomia intelectual da maioria. Pessoas pensam "assim ou assado" porque querem fazer parte de uma tribo. Caminham por rituais de passagens idiotas sem mesmo questionarem ou pensarem a respeito.

Outro dia na praia, como se já não bastasse me deparar com trogloditas dos troncos quadrados tatuados por toda parte como se estivéssemos no UFC, presenciei uma sessão de ginástica patrocinada por um desses pit bulls mais preocupado em "show off" do que com a própria namorada (bela namorada, diga-se de passagem - "vai pra casa Padilha"[1]).
Fiquei curioso e se tivesse mais coragem até teria puxado assunto. Gostaria de saber se tem algo mais na cabeça além de bombas, bombinhas e energéticos. Me passou a impressão de que não.
Pior que isso é saber que minha filha adolescente adora tais aberrações. Imagem parece ser tudo.
E antes que você me diga que é inveja, não obrigado!!! Passar pela linha de montagem dessa trupe também significa "não pensar" como eles.
Ainda prezo reconhecer a diferença entre sofisma e surfista, entre impérvia e inércia. Ainda acho bom saber alguma coisa sobre a teoria do 'Universo Inflacionário' ou ter lido sobre as 'Veredas Mortas' no Grande Sertão. Ainda me emociono com músicas do Drexler, Yes, Genesis, Chico, Milton, Toninho...

Prefiro ficar com meu físico pífio sabendo a diferença entre mim e os outros.
Neles não consegui discernir diferença alguma. Iguais.

___________________________________
[1] Jô Soares no Planeta dos Homens, 1980

Farra do boi

O que dizer???
Vide texto abaixo retirado do UOL - consulte http://congressoemfoco.uol.com.br/noticia.asp?cod_canal=21&cod_publicacao=35817 para texto na íntegra.
_________________________________________
Deputados de verão: R$ 643 mil só em salários

Desde o início do recesso parlamentar, Câmara empossou 39 deputados que não deverão participar de nenhuma sessão deliberativa. Cada um com salário de R$ 16,5 mil e demais benefícios atrelados ao mandato
O ex-governador Rogério Rosso é um dos deputados empossados em janeiro para um período em que não há qualquer trabalho na Câmara.
Um salário de R$ 16,5 mil, uma verba de R$ 60 mil para gastar com até 25 funcionários, uma cota de R$ 23 mil a R$ 34 mil para cobrir despesas com passagens aéreas, alimentação, combustíveis, telefone, entre outras coisas. Auxílio-moradia de R$ 3 mil, plano de saúde, passaporte diplomático, carteira de deputado. Todos esses benefícios garantidos aos parlamentares estão à disposição dos 39 deputados que assumiram uma vaga na Câmara durante o recesso. Em sua maioria, são deputados que assumem em substituição a secretários e ministros que tomaram posse no dia 1º de janeiro, que serão parlamentares apenas por um mês, até a posse do novo Congresso, dia 2 de fevereiro. Apenas com o salário dos “deputados de verão”, a Casa gastará R$ 643 mil em janeiro, mês de recesso parlamentar, em que não há nenhuma atividade, nenhuma sessão prevista no Parlamento, nem mesmo para discursos.
O valor das despesas geradas, no entanto, deve ser bem superior. Não estão computados aí os gastos com gabinete e os ressarcimentos das despesas, valores que só serão conhecidos após o encerramento da legislatura. Em tese, se todos os 39 deputados empossados no recesso gastassem os cerca de R$ 100 mil reservados a cada gabinete, as despesas com esse grupo em apenas um mês chegariam a R$ 3,9 milhões.

"Se eu não jogar, outro joga", diz deputado.
______________________________________________

Não duvide se toda a verba seja "legalmente" usada e comprovada com notas.

Bate estaca

Não me fale mais de enchentes, mortes e tragédias. Desligue a TV. Vamos ao cinema ver um filme tolo. Chame as crianças. Ponha Lenine, Lô, Dave Matthews ou Chico no som do carro. Não diga nada. Compre a pipoca, o refrigerante. Desligue o celular. Duas horas no escuro, ao lado de quem nos interessa... duas horas de paz.

"Muito do que eu faço
Não penso, me lanço sem compromisso.
Vou no meu compasso
Danço, não canso a ninguém cobiço.
Tudo o que eu te peço
É por tudo que fiz e sei que mereço.
Posso, e te confesso
Você não sabe da missa um terço.

Tanto choro e pranto
A vida dando na cara
Não ofereço a face nem sorriso amarelo
Dentro do meu peito uma vontade bigorna
Um desejo martelo
 Tanto desencanto
A vida não te perdoa
Tendo tudo contra e nada me transtorna
Dentro do meu peito um desejo martelo
Uma vontade bigorna

Vou certo
De estar no caminho
Desperto." [1]
____________________
[1] Martelo Bigorna - Lenine

Será????

Do site da Veja http://veja.abril.com.br/noticia/saude/beber-cerveja-todo-dia-faz-bem-e-combate-ate-diabetes
___________________
Saúde

Beber cerveja todo dia faz bem e combate até diabetes
Para as mulheres são dois copos pequenos da bebida; para os homens, três.
Todos os dias: assim como o vinho, a cerveja deve ser consumida com moderação.
"Sabemos que a cerveja não é a culpada pela obesidade, já que ela tem cerca de 200 calorias por caneca - o mesmo que um café com leite integral" - Rosa Lamuela, pesquisadora.

A cerveja foi elevada ao status do vinho no que diz respeito aos benefícios à saúde. Um novo estudo espanhol comprovou que tomar uma caneca da bebida por dia combate diabetes, evita ganho de peso e previne contra hipertensão. Além de ter graduação alcoólica baixa, a cerveja contém ainda ácido fólico, vitaminas, ferro e cálcio - nutrientes que protegem o sistema cardiovascular.
“Nesse estudo, nós conseguimos banir alguns mitos. Sabemos que a cerveja não é a culpada pela obesidade, já que ela tem cerca de 200 calorias por caneca - o mesmo que um café com leite integral”, destaca a médica Rosa Lamuela, uma das responsáveis pela pesquisa feita em parceria entre a Universidade de Barcelona, o Hospital Clínico de Barcelona e o Instituto Carlos III de Madri.
Os especialistas afirmam também que a cerveja não é a responsável pelo aumento da gordura abdominal. A culpa, na verdade, seria dos aperitivos gordurosos, como salgadinhos e frituras, que grande parte das pessoas consome junto à bebida.
O estudo, realizado com 1.249 homens e mulheres acima de 57 anos, indica que mulheres podem tomar dois copos pequenos de cerveja por dia, enquanto para os homens estão liberados até três copos. Contudo, o hábito deve estar associado a uma dieta saudável e a exercícios físicos regulares.
____________________
A indústria cervejeira agradece (até outra pesquisa encomendada ou não dizer exatamente o contrário).

Eu??? Me tire fora dessa... não me comprometa.

Quartel D'Abrantes

Voltei depois de 23 dias absolutamente sem tempo para assistir à TV.
Minha alienação me poupou do final da novela, do início do BBB, dos malditos programas dominicais, da Nick, da MTV.
Mas o sonho acabou. Estou de volta, deitado na cama com a TV ligada, zapeando freneticamente sendo invariavelmente abatido pela roleta russa dos péssimos programas da TV aberta.
E a tragédia anunciada das chuvas se repete. O resto é o de sempre: jornalismo novelístico, guerra de ibope, discursos políticos pomposos e improváveis, doações, marketing, roubos, omissões...omissões...omissões...
Ano que vem provavelmente tudo se repetirá.

Estarrecedor. Não perdi nada.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Navalha de Occam

De volta após um tour de mais ou menos 4000 Km de carro e algumas dezenas de litros de cerveja e festas. Uns bons momentos, outros nem tanto.
Mas não foram as férias "dos sonhos". Acho que nunca serão...
Thank God. Seria duríssimo conviver com o fato de que "aquelas" (no passado) foram as melhores férias da sua vida. É sempre bom olhar à frente e querer topar com algo melhor.
Btw, não encontrei meu Aleph. Mas também a viagem não foi nenhuma Transiberiana... Era de se esperar.

Mas passei a considerar como seriam as próximas, nos próximos dez anos. Em dez anos meus filhos serão independentes, terão a própria vida dura com que lidar, quase sozinhos. Cheguei então à conclusão de que após esse tempo uma inversão faz-se necessária. Ao invés de passar o ano trabalhando pensando nas férias, deveria eu passar o ano de férias pensando em como trabalhar uma vez por ano. Estou disposto a ouvir qualquer tipo de ideia. Um brainstorming seria útil e poderia trazer a solução para essa instigante questão pessoal.
Então conto com a ajuda do amigo "teleitor" (como diria o Millôr).
Começo aqui com algumas possibilidades:
1 - Fazer faculdade de Física, Mestrado nos US, Doutorado na Inglaterra.
    1.1 - Resolver os gaps do modelo padrão e do big bang e chegar à Teoria Final através de descobertas estarrecedoras na Física de Partículas;
    1.2 - Ganhar o Nobel de Física em 2022 e viver de palestras muito bem pagas, uma por mês e c'est fini.
2 - Virar político.
3 - Escrever um best-seller, comprar uma casa em Saint Martin, nos Pirineus, vender mais de 100 milhões de livros ao redor do mundo falando de como fazer ventar e chover, de meu mestre misterioso, de minha conversão ao cristianismo (pela paúra do acerto de contas com o "Jurabé", a quem vendi a alma num acordo selado após decepar a cabeça de uma cabra).
4 - Virar político ou roubar um banco.
5 - Cortar minha orelha após discutir com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.
    5.1 - Pintar um autorretrato com tendências impressionistas, aspirações modernistas e um discurso concretista;
    5.2 - Expor no MOMA juntamente com mais quinze desenhos inspirados na "obra" de Warhol;
    5.3 - Morrer de inveja do imbatível figurino do Brown fantasiado de urso polar... em Salvador, 40 graus.
6 - Virar político, roubar um banco ou ser amigo da Lula.
7 - Criar uma nova traquitana social na Internet.
8 - Virar político, roubar um banco ou ser amigo da Lula, filho da Erenice ou parente do Sarney.
...
...
...
Há um número razoável de possibilidades.
Adotando então o famoso príncípio da Parcimônia de Ockham, descarto as opções #2, #4, #6 e #8, pelo alto grau de complexidade. Roubar a Lula, virar um Banco ou ser amigo, filho ou parente de Político é tarefa titânica.
Continuando, considero não menos complexas as opções #3, #5 e #7. Acho que já estou cético e ateu demais, louco, embusteiro e gay de menos, e velho e ranzinza em demasia pra me embrenhar por aqueles caminhos.

É... Melhor eu começar a estudar Mecânica Quântica. Afinal, o que é um quark para as falcatruas da política, misticismo e autojuda, tribalismo e pop art, Facebook, Twitter???
Lépton (responderia Tião).

Moleza... Falo contigo daqui a uns onze anos, na entrega do Nobel de Física em Oslo.
Agora me deixe pensar em meu discurso de agradecimento...
____________________________________________
"Few people think more than two or three times a year; I have made an international reputation for myself by thinking once or twice a week."
George Bernard Shaw
Irish dramatist and socialist (1856 - 1950)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Nem mais nem menos

Não sou popular. Nem acho que serei... um dia. É minha sina. Sempre soube disso desde criança, todavia. Enquanto alguns faziam todo o possível para chamar a atenção, eu enrubecia só de me imaginar sendo o foco dos olhares.
Embora chamar a atenção positivamente seja ótimo, discrição sempre foi minha principal defesa.

Durante minha vida fugi de muitos arquétipos, modismos, padrões disseminados e absorvidos pela maioria. Algumas vezes fui taxado de "jeca", radical...
Mas em função disso também recebi alguns elogios. Uns poucos, é verdade.

Se todos gostam, ouvem essa ou aquela música nos churrascos, festas e reuniões, muito provavelmente eu não. Se presente, só engulo, com a carne e a cerveja.
Para estranheza geral, pior é que não faço nenhum esforço para tanto.
Execro com naturalidade infantil o breganejo, o axé, o funk, a techno e mais um sem número das verdades cotidianas da maioria. MTV pra mim é um porre, desde sempre.
Não sei o que é bíceps, tríceps, "tetríceps", "pentríceps", etc. Acho que terminarei gordo e barrigudo como maldição por meu descaso com academias. Ração animal??? "Nem que a vaca tussa..."
Como agravante, não acho que tenha o talento, a criatividade e os valores necessários ao 'homem de sucesso' da minha geração. Não caibo nesse estigma, por mais que me esforce aqui e ali.

Não sou muito diferente. Só um pouco.
Embora sem a menor chance nesse mundo, eu sei...

(...)

E é estranho... Nunca estive mais feliz.
Exatamente por causa disso!!!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Matrix moderna

As pessoas estão se alienando mais, e isso é fato.
Noto isso todos os dias, em conversas descompromissadas, diárias, com pessoas de todas as idades.
Todos reféns da prolixidade/promiscuidade tecnológica, mundo globalizado e massificação cultural (será que Chomsky e Cooper tinham realmente razão?).

Vejo isso diariamente em casa e confesso, ainda não sei como remar contra. Eu também dragado pelo individualismo de minhas próprias fraquezas e tédio... Alienado.

Russell disse uma vez que mesmo que oferecéssemos toda sorte de favores a uma raça ainda intocada de selvagens, tais favores seriam recebidos com indiferença pela maioria deles. O presente que valorizariam, dentre todos, seria a bebida intoxicante, que lhes proporcionaria pela primeira vez em suas vidas, a ilusão, ainda que por breves instantes, de que é melhor estarem vivos do que mortos.

Não venero incondicionalmente o arquétipo do intelectual, principalmente se for intelequitual.
Todavia, o provincianismo cultural é como se limitar a uma tribo, aldeia, onde tudo (ou quase tudo) de que se precisa está ao alcance das mãos, não havendo nada além.
Teríamos, então, somente a perspectiva de nossa mente constrita, sendo nosso microuniverso tudo o que realmente existe.
Claro, não é o caso. Quarks, Mecânica Quântica, Big Bang, Teoria das Super Cordas, a Física e Cosmologia reduzindo as lacunas sobre a origem do universo, nossa origem... todos lá fora.
Ler é imperativo. Creio que o 'pensar' nasce primeiro desse ato individual e solitário.

(...)

The Truman Show talvez seja aqui, agora. Ou talvez a Matrix tenha nos fisgado.

Não sei qual das duas é verdadeira. Talvez ambas.
Por hora só tenho certeza de uma coisa: por vezes só a bebida intoxicante nos proporciona a ilusão, ainda que por breves instantes, de que é melhor estarmos vivos do que mortos.
Meu receio é de que caso continuemos nesse passo, em breve voltaremos a ser uma raça de selvagens. Talvez já sejamos... A única diferença é que a bebida agora é servida em ondas eletromagnéticas, reconvertidas em som e imagens pela TV.

Acho melhor parar de "beber"... televisão.
Também nem me espera "molhar o bico..."

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Pierrot ou Arlequim?

Sentir-se estúpido às vezes parece não ser exclusividade minha. Pressinto que todos tenham tal sensação vez ou outra, seja por cometer erros crassos, passar da conta no álcool - se transformando no palhaço da festa - ou apenas por se apaixonar pela pessoa errada.

Por essas e tantas outras razões, estamos sempre nos blindando de alguma forma, criando uma armadura forjada em uma espécie de personagem de nós mesmos. Tal personagem deveria ser uma versão mais “impermeável” do que somos, realmente.

O problema é que por vezes alguns levam isso tão a sério e por tanto tempo que acabam por assimilar uma ou várias características de seu personagem. Tornam-se escravos de seu próprio script, e a partir dalí, passam a ser uma pantomima de si mesmos. Deixam de dirigir o espetáculo para se transmutar no Arlequim da própria peça, subtraídos de sensações, convívios, experiências, tudo em nome de uma característica imputada ao personagem, criada um dia para salvaguardar a própria identidade. Se alheios às mudanças ao redor esquecem de revalidá-la, retirando-a ou alterando-a se não mais necessária ou efetiva, sucubem a uma prática que pode cristalizar e passar a manipular o autor.

A inflexibilidade virá de tal “verdade pessoal absoluta” e, provavelmente, tornar-se-ão atores avessos a argumentos, lógica, raciocínio.
Intolerantes, refutarão dogmaticamente tudo e todos que se opuserem a seu novo axioma existencial.

Eu cá digo que se é pra me transformar em uma pantomima de mim mesmo, que seja emulando algumas das características de Einstein, Toninho Horta, Tony Judt, Russell, ou tantos outros. Virar o Pierrot de minha própria vida me privando de um sem número de experiências só porque “eu sou assim...” ou “eu sou assado...” não me tornarão maior ou menor do que sou agora. Os enigmas do universo continuarão por lá, impassíveis às minhas mais angustiantes questões existenciais.

Por isso, cuidado.
A menos que você viva num microcosmo limitado por um reduzido e compulsório número de habitantes, sua commedia dell’arte pode não ter graça alguma.

Pior que isso, pode não aparecer ninguém para ver seu espetáculo.