O metrô de Budapeste é um dos mais antigos do mundo, depois do de Londres. A linha amarela, ou M1, é a mais velha, data de 1896.
Alguns minutos de espera e uns vagõezinhos barulhentos, amarelos (claro), surgem como que de um fosso escuro, trazendo-me a lembrança do precário trem fantasma do Parque Guanabara na Belo Horizonte dos meus anos matinais.
Lembro-me de deixar o hotel à beira do Danúbio e ir a pé até a estação da praça Vörösmarty tér, descer a escadaria, comprar o ticket na máquina para depois apresentá-lo aos fiscais - quando estes apareciam por lá para a "incerta" que refresca em nossas cabeças razão suficiente para pagar pelo transporte; a psicologia bem prescreve que o estímulo aversivo deve ser manutenido em "blitz" como aquela, para manter o receio do dolo em nossas consciências. Do resto a dúvida se encarrega.
Confesso que compraria o ticket de qualquer jeito, porém. Não tenho dificuldade em seguir determinadas regras. Algumas parecem-me mais que justas. O que dói mesmo é pagar 40% de impostos para financiar a corrupção nacional e a vida de nababo desses infames "representantes do povo", brasileiro.
Na Vörösmarty tér não me lembro de catracas. É uma estação bem pequena, diga-se de passagem. Era só descer a escadaria e esperar pelo trem.
Tomava aquele carrinho amarelo e saltava uma estação depois, na Deák Ferenc tér. Essa maior, bem maior.
Dali pegava a linha azul, M3, e saltava na Árpád híd, de onde andava mais uns cinco minutos até o escritório.
O verão em Budapeste compensaria qualquer coisa. A ida para o trabalho de metrô já era por si só um deleite.
2007. Saudade de tudo.
Por vezes gostaria de não ser eu mesmo, ser outro. Hoje, por exemplo, gostaria de ser húngaro.
“Húngaro é a única língua que até o diabo respeita”, diria Chico.
Nenhum trem fantasma no mundo seria mais assustador que deparar-se com um maluco devidamente paramentado vociferando em húngaro impropérios a esmo.
Para um diria "egyenesen a pokol", e mostraria-lhe a cruz de prata salpicando-lhe água benta feito um Van Helsing magiar. Para outro gritaria "piszkos kutya meghal", e atravessaria-lhe o coração com uma estaca de madeira.
Depois tomaria de novo o trem e bancaria o aratógép com os que sobrassem, ceifando cabeças errática e impiedosamente.
Na catacumba dos seres das trevas tupiniquins isso seria extremamente útil.
Pena que em Brasília só haja trem da alegria.
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