segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sucubus

Mais um domingo à noite, tempo em que sua insônia acordava desrespeitosa, levando-o deperto - um zumbi atordoado - até à manhã seguinte. O sono chegaria por volta das seis, como sempre... momento do embate para não adormecer, maldição das segundas. Outro dia negro.
Sempre o mesmo cansaço pelas manhãs, a ida ao trabalho, as tarefas rotineiras que já nao lhe apeteciam mais o espírito.
A longa noite apenas começara, porém.

Deixou a cama, sentou-se à mesa e ligou o computador. Permaneceu por alguns minutos perdido entre sítios irrelevantes, notícias que em nada atenuavam seu dessasossego, até ser surpreendido pela campainha.
Quem seria àquela hora? A casa vazia, inerte e muda. Teve pensamentos pavorosos de violência e desgraças. Assim mesmo foi até a porta com um misto de medo e curiosidade.  Pelo olho mágico pensou estar delirando, repetiu o gesto duas, três vezes, a certificar-se de que não enlouquecera.
Um hiato de alguns segundos. Depois arriscou... abriu a porta intrigado.

Um aroma de petúnias soprou dela como se seu vestido púrpura colado ao corpo longilíneo fosse todo feito da solanaceae.
Linda, morena, olhos de musgo e cabelos negros insolentes, longos. Não disse-lhe nada,  apenas enlaçou-o, os braços amarrando seu pescoço, hipnotizando-o com as mãos a acariciar seus cabelos, os olhos a contar-lhe mil segredos, lascivos, tudo num átimo. Beijou-lhe a boca... e tinha gosto de mangaba. O corpo quente, opulento, rijo e macio ao mesmo tempo o fizeram flutuar para dentro de casa. Fechou a porta atrás de si já caminhando tropêgo, como se os dois, cartas misturadas do baralho, entrassem um por dentro do outro. Ora ele por cima, ora ela, um magma pulsante a tomar formas diversas, embora compacto por vezes numa  forma única.

O vestido foi se despetalando, ao mesmo tempo em que arrancava de si mesmo as roupas de dormir para sentí-la por inteiro contra seu desejo.
Na sala, no chão, no tapete, e ela linda, nua, seios, ventre, sexo, uma miragem.
Bebeu-a como a um vinho raro. Não poupou centimetro de seu corpo, vasculhou sua geografia com a sede e libido de sua boca e língua.
Precisava experimentá-la toda, sua ânsia as vezes provocando gestos incontidos, pequenos saltos aqui e ali, ele indo e vindo a beijar lugares que considerava ter esquecido, passado despercebido.
Penetrou-a já no limite de sua resistência. Úmida e quente ela o fez desfalecer num gozo imoral, ímpio, e por isso mesmo divino.

Acordou com o despertador, na cama, 7:30 AM.
Vasculhou a casa procurando por ela, desesperado, insano. Nada.
Voltou à porta: trancada... por dentro.
Retornou ao quarto pensativo, perscrutou a cama e finalmente notou os vestígios viscosos de sua noite de amor. Polução noturna.

Ai já nem sabia mais se dormia ou se despertara.
Descuidado, apanhou o travesseiro e virou-se na cama.
Era segunda, mas não se importava mais. Iria tentar encontrá-la de novo, saber seu nome, de onde vinha...
Adormeceu minutos depois. Esboçava um sorriso no canto da boca, então. Talvez a graça de quem achara o que estava procurando, mesmo que isso o pussesse diante da possibilidade dos pesadelos.
Valeria o risco. Petúnias e mangabas... trópicos e verão.

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