Premissa primeira:
Como em "The Beach", filme baseado em livro homônimo de Alex Garland, é comum ignorarmos toda e qualquer imagem que nos desconforte, estorvos, misérias e injustiças que enfeiam nosso mundinho particular. Melhor fingir que não existem e continuar conversando e andando.
Fazemos ouvidos de mercador para as súplicas, pedidos de socorro e deixamos, como no filme, nossos 'Christos' morrerem à míngua, desde que afastados de nossas vistas. Voltamos, assim, ao nosso mundo perfeito em minutos com o ato simples e barato da omissão.
O que seria de nós se vivêssemos como Francisco de Assis? Talvez o mundo fosse até um lugar melhor ?!?!?!
Mas muita gente lucra com o medo e a desgraça, e fomos ensinados, desde cedo, tal qual nossos políticos e homens públicos, a darmos de ombros.
Diria Salomão: "não sejas demasiado justo nem demasiado sábio: queres te arruinar?" ... Nunca gostei dessas interpretações bíblicas...
Premissa segunda:
Percy L. Julian nasceu em 1899, no Alabama. Neto de escravo, viveu a era de Jim Crow[1] nos Estados Unidos. Cursou a Universidade DePauw em Greencastle, Indiana, numa época de segregação que o forçou a muitas humilhações. Julian não foi autorizado a viver nos dormitórios da faculdade e viveu primeiro numa casa fora do campus, que se recusava a servir-lhe refeições. Alguns dias se passaram até que Julian encontrasse um estabelecimento onde ele pudesse comer.
Tinha tudo pra dar errado.
Porém, tornou-se um dos pioneiros da síntese química de hormônios humanos em larga escala, esteróides, progesterona e testosterona, a partir de esteróis vegetais como o estigmasterol e o sitosterol.
Lançou as bases para a produção industrial de medicamentos como cortisona, outros corticosteróides, e pílulas anticoncepcionais.
Seu trabalho ajudou a reduzir o custo de esteróides intermediários tornando economicamente possível a classes menos abastadas o tratamento de doenças reumatológicas graves.
Durante sua vida patenteou mais de 130 produtos químicos.
Julian foi um dos primeiros afro-americanos a receber um doutorado em química. Foi também o primeiro químico negro empossado na Academia Nacional de Ciências e o segundo cientista afro-americano a fazer parte da academia.
Conclusão :
"União, Estado, Distrito Federal e Municipios são responsáveis solidários pela saúde, tanto do indivíduo quanto da coletividade..." mas aqui não são os US, não existem Percy Julians, e racismo só serve mesmo é pra alardear e justificar a Secretaria da Igualdade Racial.
Ademais, a União, Estado, DF e Municípios estão quase sempre a dar de ombros, a menos que você seja parte da plutocracia partidária ou parente do Sarney.
Se compelidos por um drama pessoal passamos de indiferentes a suplicantes, bebemos de nossa própria estupidez e descaso como legado dos longos anos de surdez e cegueira.
Talvez fosse a hora de nos sairmos mais a Francisco de Assis e menos a Salomão, mais a Percy Julian e menos a Mano Brown, mais a ser humano e menos a ministro da saúde.
O remédio não deveria custar tão caro assim, caso fosse esse realmente um "país de todos".
"Deve-de..."
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[1] As leis de Jim Crow foram leis estaduais e locais decretadas nos estados sulistas e limítrofes nos Estados Unidos da América, em vigor entre 1876 e 1965, e que afetaram afro-americanos, asiáticos e outras raças. A "época de Jim Crow" ou a "era de Jim Crow" se refere ao tempo em que esta prática ocorria. As leis mais importantes exigiam que as escolas públicas e a maioria dos locais públicos (incluindo trens e ônibus) tivessem instalações separadas para brancos e negros. Estas Leis de Jim Crow eram distintas dos Black Codes (1800-1866), que restringiam as liberdades e direitos civis dos afro-americanos. A segregação escolar patrocinada pelo estado foi declarada inconstitucional pela Suprema Corte em 1954 no caso Brown v. Board of Education. Todas as outras leis de Jim Crow foram revogadas pelo Civil Rights Act de 1964. Fonte: Wikipédia
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