Li a autobiografia do Agassi.
Sensacional.
Por alguma razão que desconhecia, já que cresci no subúrbio de onde só ouvia falar de tênis em nomes pomposos como Minas Tênis Clube, Barroca Tênis Clube, gostava muito desse esporte.
Hoje sei que eram dois os motivos: primeiro, porque sempre tímido e inseguro no esporte coletivo, quando responsabilizado pelos colegas de time pela derrota, brigava e saía como o desagregador. Nunca gostei mesmo de cobranças injustas, especialmente as vindas dos reais culpados, os ególatras que jogaram o tempo todo como que para si mesmos e para a platéia e que no fim vinham em busca de bodes expiatórios para tirar-lhes do foco da derrota. Queria sim jogar um esporte individual, onde não prestaria contas a ninguém, nem dos erros nem dos acertos, somente a mim mesmo, cobranças e insatisfações de quem posso ou tenho de tolerar, sem escolha.
Segundo, porque nunca vi esporte mais elegante.
Depois da primeira vitória de Guga em Roland-Garros em 1997 então, foi minha redenção.
Agassi traz novas nuances ao esporte, porém. O depoimento de um mito e suas impressões inequívocas. A solidão, a pressão. O desmoronamento de minha ilusão de que um esporte individual e solitário te elimine das cobranças e responsabilizações. O duelo interno constante, inseguranças e medos, receios, implodindo você o tempo todo. Podem destruí-lo... Embora possam também reconstruí-lo, reinventá-lo, caso aprenda com as derrotas, com os medos. Contradição.
Li 503 páginas em horas. Era impossível parar. Queria saber o que vinha depois: o próximo campeonato, derrota, glória, trapalhada, amor, tristeza, desilusão, alegria.
O garoto, que escandalizou usando shorts jeans, brincos, camisetas rosa, que raspou os pelos do peito e foi chamado de bicha, mullet colorido, sempre chamando a atenção pela aparência e rebeldia (ou eram a mesma coisa?) e pelo talento arrasador e inconstante. Se autodestruiu nos anos noventa.
Aos 29, em 1999, se reconstruiu.
O homem, maduro, acumulou recordes, títulos, voltou ao topo, até se aposentar em 2006, com 36 anos, refeito, reencontrado, em paz, enfim.
Gosto ainda mais de tênis agora.
Meu filho joga tênis. Como nunca jogarei na vida.
Talvez um dia eu o veja em Wimbledon, Roland-Garros...Talvez não. Quem sabe?!?!?
"A vida no tênis é um turbilhão"[1].
O livro do Agassi também. Fantástico.
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[1] (Andre) Agassi, Autobiografia, 2010.
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