A geração de sessenta, minha geração, um paradoxo temporal parido no vórtice de um furacão contestador jovem, mundial, representado por uma trupe cabeluda, idealista, colorida, revolucionária, emblematizada por Beatles, Clube da Esquina, Hendrix, Tropicália, UNE, Easy Rider, Kerouac, Woodstock, tantos, outros... querendo sexo, drogas, rock’n roll, paz, amor, liberdade, arte, conhecimento, e contraditoriamente gerando - depois - filhos órfãos de causa ou ideal, estigmatizados como a “geração coca-cola”, sem sal, sem pimenta, rebentos talvez da ressaca, da pós-revolução cultural, política, moral... posteriores... nós... órfãos na falta de uma nova revolução, num mundo velho de cooptações e pragmatismo... órfãos, todos Simpsons, ou Ninguéns.
(...)
Me chamo Zé. Poderia ser João, Paulo ou Tião.
Não sou nada nem fiz nada, não mudei o mundo, nem fiz música, nem filme, nem poema nem teatro, não discuti o amor, a política, a moral, a arte, a filosofia, a literatura... Não sei quem foi Truffaut, Proust, Bituca, Welles, Wilde, Greene, Drumond... não caminhei com ninguém a meu lado, nem grande nem pequeno... sou individuo, vazio, preocupado com meu mundo, o mundo ao alcance de minhas mãos ou do controle remoto, wireless, bluetooth.
Meu sobrenome é Ninguém.
Não deixarei um legado, uma obra, sequer um libelo...
Depois de mim, ninguém saberá se realmente nasci um dia... sem traços, características, vestígios.
Aqui jaz Zé Ninguém, que nasceu promessa e morreu aquém...
A rigor, eu nunca existi!!!
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