sexta-feira, 8 de julho de 2011

Trilha sonora de m...

Subitamente você nota que uma música nada mais é que a trilha sonora para uma determinada situação.
O Cinema não usaria o recurso se assim não fosse. Afinal, o som contextualiza, potencializa o drama, a comédia, o terror. Transborda a cena de dor, alegria, até muda, às vezes, o rumo de uma tomada despretensiosa.

PS Que fique claro: não entendo "lhufas" de cinema. É só uma opinião pessoal.
Sou assim mesmo, falo o que quero.

Mas devemos ter cuidado. A breguice espreita. Aliás, o piegas nada mais é que a vontade tresloucada por sofisticação. Eu mesmo não encontrei ainda a fórmula de evitar tal armadilha. Poderia sofrer subitamente de "dor de corno" e ouvir Peninha cantado por Caetano, ou me sentir um mestre e sapecar 'Os Concertos de Brandenburgo' no som. Nem doeria.
Mas às vezes piora. Me imagino pulando de 'Chocolate Kings' para Rosa Passos e confundo todo mundo. Só ainda não atingi o nível de (in)sensibilidade necessário para ouvir breganejo ou axé. Isso ainda me mata... de raiva.

A vida é assim. Só não há engenheiros de som, editores, algum produtor ou diretor musical para estabelecer o repertório dos bons e maus pedaços que passamos. Seria no mínimo inusitado.
Imagine você com uma dor de barriga inegociável, daquelas de torcê-lo feito cobra, fazê-lo correr de um lado a outro no Shopping em busca de um banheiro enquanto a orquestra manda 'A Cavalgada das Valquírias', como no Apocalypse Now?
Agora pense que no desespero, você perdeu tempo demais tomando todos os atalhos errados e o banheiro agora é tarde, "babau", longe demais e você só consegue dar aqueles passinhos minúsculos, e mesmo esses, com o esforço estampado no vermelho apertado de seu rosto suado.
Ai você sucumbe, e vislumbra sem pudor seu rastro e o espanto no rosto dos passantes com as caras e bocas que fez no último esforço para livrar-se do imbróglio intestinal, isso sem falar do cheiro, que seria sua última preocupação depois de lembrar-se que desgraçadamente usava a única calça limpa do guarda-roupas, branca, a que você nunca usa.

Se seu infortúnio inicial foi salvo por Wagner, a humilhação final poderia ser coroada por Skylab.
Mas não, algum engraçadinho fdp resolveu fazer-lhe um pot-porri com requintes de sadismo. E dá-lhe Joelma, esganiçante, Zezé Di Camargo e Luciano, Parangolé e seu "Tchubirabirom", "bom chi bom chi bom bom bom", MC Créu representando o funk na velocidade... da luz, até que vem a derradeira, a excruciante "rebolation".
Nessa hora você perde a linha.
Dá um último e derradeiro peido, alto, molhado, desrespeitoso, quase 4 segundos de pura indignação mal cheirosa, infla o peito com o resto de dignidade que ainda não ficara marrom em sua roupa e sai andando, como se a trilha sonora deixada atrás de você não fosse a maior bosta.




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