Parece ser uma espécie de sina, e cá estou eu de novo tentando explicar a mim mesmo (vide http://strategosaristides.blogspot.com/2011/08/nem-verdadeiro-nem-falso-muito-antes.html) que aderir a certos "frame of mind" é natural. Embora o tema seja conhecido e tenha sido abordado pelos sociólogos e psicólogos sociais franceses Gabriel Tarde e Gustave Le Bon ainda no século 19 - posteriormente também estudado por Freud e Wilfred Trotter, Thorstein Veblen e mais recentemente por Malcolm Gladwell em 'The Tipping Point' -, pra mim seu formalismo ainda era desconhecido.
Como continuo por vezes sendo a "aberração de circo" ao marchar no sentido oposto ao da turba - evidentemente não sem pagar um preço -, achei imperativo esclarecer a mim mesmo razões e causas, como lenitivo à pecha que quase sempre carrego.
Da Wikipédia trago o conceito principal :
The term herd mentality is derived from the word herd, meaning "group of animals," and mentality, implying a certain frame of mind. However the most succinct definition would be: "how large numbers of people act in the same ways at the same times."
Herd behavior is distinguished from herd mentality because it applies to all animals, whereas the term mentality implies a uniquely human phenomenon. Herd mentality implies a fear-based reaction to peer pressure which makes individuals act in order to avoid feeling "left behind" from the group. Herd mentality is also sometimes known as "mob behavior".
Adiciono então o conceito detalhado de Le Bon em Psychologie des foules [1855]:
‘A peculiaridade mais notável apresentada por um grupo psicológico é a seguinte: sejam quem forem os indivíduos que o compõem, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento.
Há certas ideias e sentimentos que não surgem ou que não se transformam em atos, exceto no caso de indivíduos que formam um grupo. O grupo psicológico é um ser provisório, formado por elementos heterogêneos que por um momento se combinam, exatamente como as células que constituem um corpo vivo, formam, por sua reunião, um novo ser que apresenta características muito diferentes daquelas possuídas por cada uma das células isoladamente.’ (Trad., 1920, 29.)
A partir daqui "salto" ao ponto que me interessa:
Le Bon acreditava que os individuos num grupo apresentam novas características que não possuíam anteriormente e busca a razão disso em três fatores diferentes/causas. Trago a mais importante:
‘A terceira causa, de longe a mais importante, determina nos indivíduos de um grupo características especiais que são às vezes inteiramente contrárias às apresentadas pelo indivíduo isolado. Aludo àquela sugestionabilidade, da qual, além disso, o contágio (num grupo, todo sentimento e todo ato são contagiosos, e contagiosos em tal grau, que o indivíduo prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo) não é mais do que um efeito.’
‘Para compreender esse fenômeno, é necessário ter em mente certas recentes descobertas psicológicas. Sabemos hoje que, por diversos processos, um indivíduo pode ser colocado numa condição em que, havendo perdido inteiramente sua personalidade consciente, obedece a todas as sugestões do operador que o privou dela e comete atos em completa contradição com seu caráter e hábitos. As investigações mais cuidadosas parecem demonstrar que um indivíduo imerso por certo lapso de tempo num grupo em ação, cedo se descobre — seja em consequência da influência magnética emanada do grupo, seja devido a alguma outra causa por nós ignorada — num estado especial, que se assemelha muito ao estado de ‘fascinação’ em que o indivíduo hipnotizado se encontra nas mãos do hipnotizador. (…) A personalidade consciente desvaneceu-se inteiramente; a vontade e o discernimento se perderam. Todos os sentimentos e o pensamento inclinam-se na direção determinada pelo hipnotizador.’ (Ibid., 34.)
‘Vemos então que o desaparecimento da personalidade consciente, a predominância da personalidade inconsciente, a modificação por meio da sugestão e do contágio de sentimentos e ideias numa direção idêntica, a tendência a transformar imediatamente as ideias sugeridas em atos, estas, vemos, são as características principais do indivíduo que faz parte de um grupo. Ele não é mais ele mesmo, mas transformou-se num autômato que deixou de ser dirigido pela sua vontade.’ (Ibid., 35.)
Junte-se a isto o estudo de Van Gennep sobre os "ritos de passagem" (cerimoniais que marcam a transição dos indivíduos de um status para outro numa sequência que incluí "separação", "transição" e "incorporação") e temos explicação razoável para determinadas imposturas do grupo sobre a individualidade como condição de incorporação... ou separação.
Eis então que torna-se mandatório ser conhecedor até das banalidades que caracterizam o grupo ao qual se está inserido como critério válido para manutenção de sua aceitação.
Como, ao invés disso, às vezes cismo em conhecer a razão intrínseca do porquê fazemos isso ou aquilo, continuo no mais das vezes como o "homem elefante" da história, já que considero mesmo quase insuportável aderir à todas unanimidades sociais passivamente.
Ai só tem um jeito: ou você acha bonito saber que Van Gennep (com esse nome mesmo, viu carioca?) era alemão - embora tenha se mudado para França aos 6 anos após o divórcio dos pais - e que Dante Alighieri foi quem escreveu a 'Divina Comédia', além de ser o nome de um colégio caríssimo em Sampa, ou que é mais importante saber que A "harmoniza" com B e o copo adequado para o conhaque, espumante ou vinho branco é assim ou assado.
Teimoso que sou, prefiro descer aos círculos do Inferno acompanhando Dante e Virgílio a me curvar abnegado a todas as "normas sociais" que ao fim e ao cabo padronizariam meu gosto, meus atos, com a certeza de que verdades científicas mandaram o homem à lua e continuam verdades, independentemente do lugar e da cultura, e embora comer cachorro (boshintang) aqui não "harmonize" com coisa alguma, isso é/foi deveras apreciado na Coréia.
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