Embora atordoado segui o vozerio, sempre abduzido pela confusão, pelo movimento da turba, contaminado pela excitação ou transe coletivo que por vezes depreda, até mata, mas que invariavelmente destroi.
Nunca entendi bem essa minha compulsão pela destruição, todavia. Sei apenas do impulso incontrolável, do prazer caótico, animal.
As ideias regurgitadas aqui e ali, mimetizadas, sem análise, oriundas da hipnose do grupo ou do líder, embora liderança signifique momentos, líder ou vilão, linha tênue.
Queremos o protagonismo dessa geração, perdida. Onde andam os opressores? A propósito do quê viemos? Por que ou contra quem lutamos? Onde estará nossa primavera? "(O cu do mundo, esse nosso sítio)/O crime estúpido, o criminoso só/Substantivo, comum/O fruto espúrio reluz/À subsombra desumana dos linchadores."[1]
O futuro difuso, faces, twitters, as redes, sociais, as novas lutas, nas redes, sociais, virtuais, cibernéticas... Quem andará do outro lado? Avatares. Imagem, alter ego, narciso.
O atraso patente, espelhado nos velhos maos, chês... Criemos vilões. Projetemos as causas. Elejamos os símbolos.
Não sabemos matemática, português, filosofia, história. Não sabemos, porém.
Não ouço o eco do passado, não entendo sua métrica. Involução.
Lincharam meu cérebro. Linchadores.
Tornaram-me massa de manobra. Militante.
(...)
"O otimismo prejudicial é o desmedido ou, como disse o filósofo Arthur Schopenhauer, o otimismo mal-intencionado, inescrupuloso. É o tipo de pensamento que está por trás de todas as tentativas radicais de transformar o mundo, de superar as dificuldades e perturbações típicas da humanidade por meio de ajuste em larga escala, de uma solução ingênua e utópica, como o comunismo, o fascismo e o nazismo. Otimismo e utopia em excesso geralmente acabam em nada, ou, pior, dão em totalitarismo. Lenin, Hitler e Mao pertencem a essa categoria de otimistas inescrupulosos."[2]
"O pensamento utópico sobrevive porque não se trata de uma ideia de fato, mas de um substituto de uma ideia, algo que serve de alívio para a difícil – e geralmente depressiva – tarefa de ver as coisas como elas são realmente. É uma forma de vício, um curto-circuito que afasta os indivíduos da razão e do questionamento racional e efetivo. O pensamento utópico nos remete diretamente para um objetivo, passando por cima da viabilidade do projeto. É fácil digeri-lo e se embeber do seu otimismo mal-intencionado e sem fundamento. O problema vem depois, quando a utopia termina em fiasco."[2]
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Imagem #1: Capa do disco 'Brain Salad Surgery' do ELP, 1973 - H. R. Giger.
Imagem #2: Caricatura de Arthur Schopenhauer, por Wilhelm Busch
[1] O Cu do Mundo - Caetano Veloso
[2] Roger Scruton
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