sábado, 5 de novembro de 2011

A Minoria Majoritária

Não há oposição no país.
As razões são muitas e já foram explicadas sob diversos prismas. Cito duas perspectivas, cujas vertentes garantem certa transparência, já que em tese cobririam o espectro ideológico esquerda-direita.
O primeiro artigo é do Rudá Ricci e o segundo, do Marco Antônio Villa.
Perdemos a oposição no Brasil
República destroçada

Vale também a leitura do artigo escrito pelo Olavo de Carvalho abaixo.
Democracia normal e patológica – II

Agora recorro a Russell, Orwell e Roger Scruton.
Para Bertrand Russell, as diferenças ideológicas internas eram claramente relevadas durante períodos de guerra, com a materialização de um inimigo comum, externo. A "moral" associada aos tempos de guerra alinhavava "antagonias", corroborava a união de todos no combate a esse inimigo externo.
Orwell cristalizou tal "moral" no livro 1984. A guerra eterna da Oceania contra a Eurásia ou Lestásia - embora a população fosse ludibriada a acreditar que o inimigo fora sempre o mesmo, no passado, presente e o seria no futuro -, dava ao partido um mecanismo para manutenção dos ânimos da população num ponto ideal. O objetivo da guerra não era vencer o inimigo ou lutar por uma causa. Ao invés disso, tratava-se de subjugar o povo à "moral da guerra" citada por Russell, enquanto ao partido, carta branca para qualquer descalabro justificado na persona do inimigo.
De Scruton cito a teoria que traria uma terceira via para explicar a "moral da guerra" de Russell aplicada aqui, nesse nosso sítio.
Caso a guerra contra um inimigo externo não seja viável, busque-se uma causa e uma vítima interna a ser resgatada como substitutas.
"Vem desde o século XIX e de Karl Marx, em particular, julgar toda forma de sucesso humano a partir do fracasso dos outros. Com base nisso, engendrar um plano de salvação para os mais fracos. Esse é um dos motivos pelos quais os movimentos de esquerda continuam a fazer sucesso. Eles sempre oferecem uma causa justificável e uma vítima a ser resgatada. No século XIX, a esquerda pretendia salvar os proletários. Nos anos 60, a juventude. Depois, vieram as mulheres e, por último, os animais. Agora, eles pretendem resgatar o planeta, a maior de todas as vítimas que encontraram para justificar seus atos. A promessa é sempre inalcançável, inatingível, porém justificada pela vitimização constante, pela mudança do foco para uma minoria qualquer que "tem que ser salva". "[1]
Nesse ciclo o poder se perpetua, embora no final troque-se apenas uma elite por outra, uma desigualdade por outra, muitas vezes adicionado o efeito colateral do cerceamento da liberdade, esse sim, socializado.

E embora a esquerda nacional habite a máquina estatal em todos os níveis, seja efetivamente a elite politico-econômica do país, ainda insiste em colocar-se como minoria politicamente perseguida. É como se isso fosse-lhes imperativo e inerente.
Como poderiam ser a minoria se seu antagonismo direto nem existe mais?
Temo o dia em que conseguirão seu intento. Nem mais uma voz dissonante, não-diversidade como regra legal, finalmente a hegemonia que almejam há tanto.
É a minoria majoritária!
Ai só recorrendo ao Miniver de Orwell em 1984. Para acreditarmos verdadeira mentira tão acintosa, melhor relembrarmos Winston e a derradeira "revelação" do final do livro:
"Por fim penetrava-lhe o crânio a bala tão esperada.
 Levantou a vista para o rosto enorme. Levara quarenta anos para aprender que espécie de sorriso se ocultava sob o bigode negro. Oh, mal-entendido cruel e desnecessário! Oh, teimoso e voluntário exílio do peito amantíssimo! Duas lágrimas cheirando a gim escorreram de cada lado do nariz. Mas agora estava tudo em paz, tudo ótimo, acabada a luta. Finalmente lograra a vitória sobre si mesmo. Amava o Grande Irmão."[2]
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[1] Roger Scruton
[2] Orwell, George. 1984. São Paulo : Companhia Editora Nacional, 2004. p. 284, 285.

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