Com a devida vênia, compartilho aqui a tese do primo Carlos Mota, nada menos que Coordenador de Recursos Humanos no INSS e Procurador Federal, além de Juiz Maior da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas e, ipso facto, um baita escritor.
Sobre homens bonitos, loiras, baixinhos e varapaus
Tese de Carlos Mota Coelho
Na maioria das vezes, o senso comum falha em suas constatações acerca de determinado fenômeno, gerando mitos, crendices, seitas, facções, religiões enfim. Noutras, a ciência acaba por confirmar aquilo que por milhares de anos – e em populações, as mais diversas – é tido como verdade absoluta e inconteste.
Um desses mitos, por exemplo, é o de que toda loira é burra. Não obstante o número de exemplares, falsos ou verdadeiros, o universo blond apresenta estatisticamente o mesmo número de beócias verificado entre as morenas. O que, em verdade, pode ser inferido é o natural espalhafato do amarelo, quando comparado aos tons da cor preta. Ademais, não é nada científico atribuir-se, por exemplo, burrice genética a um cabelo cuja cor se alterou temporariamente, graças a uma aplicação de corantes artificiais ou descolorizantes do tipo parafina.
É de ressaltar, ainda, a falta de rigor epistemológico na negativa desse atributo aos machos portadores de pêlos loiros. Exceção a esse axioma é, com certeza, a subespécie dos surfistas, pois não há burrice maior do que insistir em passar a vida tentando se equilibrar sobre ondas, o que desmoraliza por completo o cérebro humano. Ipso facto, pode-se afirmar, sem receio de qualquer tipo de censura, que todo surfista, louro ou de qualquer outro matiz, é burro, exceto os do Lago Paranoá, como é o caso de meu genro, exímio compositor e cantor!
Mas, saindo dos exemplos, e partindo para o escopo da tese aqui desenvolvida, o mundo científico terá finalmente a oportunidade de submeter a teste a relação entre o Sistema Digestivo Humano e a Aparência Humana – num espectro que vai da feiura, por exemplo, deste cientista que vos fala, à beleza de um Tom Cruise.
Se não me engano, Diógenes foi o primeiro a vislumbrar uma relação necessária entre os belíssimos varões gregos e a incontinência flatular, tanto que, belo como era, não era capaz de controlar seu esfíncter nem diante do mestre Platão. Aliás, Alexandre, o Grande, obteve memoráveis vitórias bélicas graças ao efeito destruidor que os peidos de seus joviais soldados provocavam nas hostes inimigas. Felipe, o Belo, acabou por legar a França a excelência na produção de perfumes, sem os quais a sua corte não teria sobrevivido em meio à fedentina que a cercava.
Certo é que, desde os tempos imemoriais, certificar se o macho humano é indubitavelmente belo passa necessariamente pela análise da intensidade odorífera e sonora produzida pelo seu sistema digestivo. Hipocrates dissecou centenas de cadáveres, mas não conseguiu desvendar a razão de os homens bonitos peidarem com mais frequência do que os nada agraciados pela natureza. Recentemente, restou provado que oitenta por cento da serotonina é produzida pelo intestino. E como é a serotonina que nos assegura o bom humor, vinda que é da catinga do intestino, pode-se afirmar que bom cheiro e mal humor nunca andam juntos.
Não se pode, todavia, dizer que vãs foram as tentativas perpetradas pelo Pai da Medicina, se levarmos em consideração que sem elas talvez o mundo estivesse até hoje buscando uma explicação para o mau-hálito inerente a todo e qualquer baixinho. Foi medindo a extensão tubular entre as cavidades anal e bucal que Hipócrates concluiu que o mau-hálito entre os tampinhas decorre da proximidade entre elas.
De igual modo, tais experimentos tiveram o condão de legar à humanidade a mais irretorquível conclusão sobre a altíssima mortalidade entre as pessoas de estatura elevada. Basta uma visita a um asilo, por exemplo, para concluir que a expectativa de vida é inversamente proporcional ao tamanho do sujeito. Exemplos de sobra o Brasil pôde legar à humanidade através de gigantes tampinhas como Oscar Niemayer, Dona Canô, Derci Gonçalves e, no próprio futebol, o baixinho Romário.
Hipocrates, também Pai da Hipocrisia, atribuiu a elevada mortalidade dos varapaus à questão da circulação sanguínea e, para tanto, tomou por paradigma automóveis construídos pela Ford nos anos 1970/80. Três modelos eram movidos por um mesmo motor de 1800cc. Ocorre que o primeiro, o Corcel, era pequeno e leve, o segundo, a Belina, médio, e o terceiro, o Versalhes, grande e pesadão. Ao observá-los, Hipocrates percebia que o último sempre morria. Passados cerca de trinta anos, ainda observamos Corcéis ainda circulando pelas ruas e estradas, enquanto Belinas e Versalhes jazem nas sucatas.
O mesmo ocorre entre os humanos. Independentemente de sua estatura, todos são motorizados pelo mesmo tipo de coração. É óbvio que o coração do gigante se esforça mais, perdendo precocemente o prazo de validade, enquanto o do tampinha, por exemplo, dura para sempre, tanto que são comuns enquetes do tipo “você já foi num enterro de anão?”. Por outro lado, isso explica o mau humor típico dos baixinhos, em contraste ao caráter folgazão dos homenzarrões. Aliás, há uma vertente de linguistas que considera a expressão “baixinho invocado” um pleonasmo, apesar de sua entidade de classe intitular-se FBI – Federação dos Baixinhos Invocados.
Mas voltemos ao fulcro do tema aqui desenvolvido. Hipocrates, conforme dito, não logrou êxito em sua tentativa de correlacionar beleza X peido. No campo das teorias compensatórias, majoritária é a corrente que afirma existir um componente importante em tal fenômeno, que é a perpetuação da espécie. Por ela, se os homens belos não fossem dotados do dispositivo peidante jamais sobrariam fêmeas para os feiosos. Ortega e Gasset insinuam, em sua monumental obra conjuntamente escrita a dois, que os homens belos são naturalmente alérgicos ao trabalho. Afinal, a engenharia cósmica os concebeu muito mais para a reprodução, do que para a produção de alimentos, por exemplo. Daí, sem o artifício flatulante genético, a humanidade se sucumbiria pela fome. De igual modo, o conhecimento estaria estagnado na Idade da Pedra, privado de espécimes como Newton, Voltaire, Einstein e tantos outros feiosos que enfeitam a galeria dos gênios da humanidade.
Como cientista, movido pela vontade férrea de legar à humanidade os meus geniais conhecimentos, não posso fugir de uma ilação que esta tese pede. O número de fios de cabelo espetados nas cabeças humanas, que no caso da minha são cada vez mais raros! Experimente andar pelas estradas do mundo e tente encontrar um andarilho ou mendigo careca. Com certeza você não achará um, pois todos os andarilhos possuem jubas imensas, o que também acontece com os beatos e os santos, exceto, se não me engano, São Ivo, patrono dos Advogados, o que explica a exceção. Mas vá a uma reunião de banqueiros ou de homens endinheirados. Nela você verá uma profusão de luzidias carecas, razão porque é dos carecas que elas gostam mais! Isso também explica uma tendência inata, muito verificada entre jogadores de futebol: assim que ficam ricos, eles simplesmente raspam suas cabeças!
Todas essas conclusões, no entanto, ainda carecem de comprovação cientifica. Por outro lado, é essencial descobrir o lócus cerebral em que se situa o campo que responde por essa função orgânica, exclusiva dos belos. Pelo adiantado em que se acha o esforço planetário para desvendar o DNA, é possível que brevemente saibamos qual a sequencia que dita tal herança genética. Vislumbra-se até a possibilidade de intervenções cirúrgicas capazes de reverter situações limites, como as que acometem homens belíssimos de uma constante insatisfação, melancolia, tristeza, falta de autoestima, causadoras de traumas psicológicos, não raro geradores de suicídios e uso abusivo de entorpecentes, ditadas pela SAT – Síndrome Amorphophallus Titanum, nome tomado de um tipo de flor que, embora belíssima, tem um odor tão fétido, a ponto de ser chamada popularmente de flor-cadáver. Aliás, dezenas de cientistas se revezam, de tempos em tempos, no Quail Botanical Garden (ela só floresce de sete em sete anos), justamente com o propósito de identificar se o mecanismo genético que a faz linda e, ao mesmo tempo, malcheirosa é o mesmo que faz homens lindos e peidorreiros.
Tal preocupação em arrefecer ou mitigar a síndrome aumenta na medida em que práticas ligadas à eugenia, melhor alimentação, ociosidade, cirurgias plásticas e a própria cosmética vêm concorrendo proativamente para o acentuado aumento do número de homens bonitos, mas, via de consequência, de internações em hospícios, divãs e cemitérios.
Outra razão maior para um melhor enfrentamento do problema criado pela SAT é o número de belos machos que abrem mão voluntariamente dessa condição, ingressando no gênero feminino (o transexualismo). Deontologicamente, não deve a ciência obstaculizar a vontade de migrar para outro gênero. Porém, no caso dos portadores de SAT, a questão não é de cunho volitivo, pois no íntimo eles querem permanecer machos. Porém, a beleza de que são portadores acaba por facilitar tal migração de gênero (É sabido que quanto mais bonito é o sujeito, menos complicadas e, por conseguinte, menos onerosas são as cirurgias transexuais). A esse facilitador alia-se a dificuldade de manter parceiras, em razão da repulsa provocada pela incontinência flatular. Como os homens comuns – feios, sobretudo – não possuem olfato delicado e nem se podem dar ao luxo de dispensar companhia, os ex-homens bonitos, uma vez transmutados em fêmeas, passam a não enfrentar mais o drama da solidão, ainda que continuem flatulentos.
Uma corrente científica rechaça o caráter inibidor da atração de fêmeas, decorrente da SAT. Sustentam que, para a maioria taxionômica das fêmeas, a beleza do macho do tipo SAT suplanta a ojeriza resultante do mau-cheiro. Mais recentemente suas lucubrações vêm caindo por terra e os argumentos de que valem seus detratores, inclusive Carlos Mota, vêm sendo extraídos da observação das Paradas Gay, ocorridas em grandes cidades do Planeta. De fato, as megalópoles, palco de tais paradas são as mais poluídas e malcheirosas. Segundo eles, isso estimula a vontade de mudar de sexo. Só em São Paulo, tomando como parâmetro a última parada, metade de sua população trocou de sexo. Estatisticamente, para sossego dos que temiam consequências graves, o número de homens e o número de mulheres não se alteraram em absoluto, pois os 50% que eram homens se transformaram em mulher e os 50% que eram mulheres viraram homem.
O problema, conforme se vê, é mais sério do que se pensa. Mas a ciência e a tecnologia não se descuraram dele, tanto que na divisa da França com a Suíça foi construída uma passarela de 27 quilômetros de extensão – uma espécie de sambódromo circular – cem metros abaixo da superfície. Neste imenso túnel, denominado Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider), serão realizados importantes experimentos visando conhecer a idade do Universo.
Enganam-se, porém, os que pensam que o LHC foi feito apenas para isso. Iniciado no conservadorismo de Margareth Thatcher e Ronald Reagan, o projeto de tal passarela subterrânea – justo com o sentido de garantir a privacidade das pessoas que nela vão desfilar, conforme demonstrarei adiante – jamais receberia verbas governamentais. Temendo isso, seus idealizadores escamotearam a sua finalidade verdadeira.
Ora, para o tipo de experimento que eles alegam ter sido construído – chocar prótons contra os outros e fazer medições – jamais seria necessário um túnel, muito menos um túnel tão oneroso. Um túnel circular, nem pensar, pois a melhor trajetória de um projétil ou de um feixe de raios é a linha reta! Bastaria, neste caso, construir tal acelerador num deserto, ou no fundo do mar, com tubos bem reforçados e dispostos em linha reta.
Uma estrutura circular e feita dentro do chão só se justifica para outras espécies de experimentos científicos, nas quais, onze em cada dez cientistas, incluem a síndrome aqui tratada.
Que se preparem os céticos. Fracassada a tentativa de datar o Universo, com certeza uma Grande Parada de Gays, Lésbicas, Transexuais, Travestis e Simpatizantes será realizada no Grande Túnel, encobrindo os seus participantes, principalmente os que não querem sair do armário, e descortinando para os cientistas respostas corretas às apreensões que tanto os perseguem, entre elas a que leva os homens bonitos à incontinência flatular.
No mais, haja falta do que fazer!
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