domingo, 12 de fevereiro de 2012

Claro como água

Do blog do Paulo Briguet, 'Com o perdão da palavra'.


O sequestro da linguagem
03 de Fevereiro de 2012 - 09:29

Qualquer ditadura começa pela linguagem. Atacar a liberdade de expressão é apenas uma das etapas da revolução cultural socialista que vivemos na atualidade; o primeiro passo é estabelecer novos sentidos para as palavras.

Aqui no Brasil temos o partido-príncipe, o partido de Gramsci, o partido do novo Maquiavel (além, é claro, da base alugada e da oposição fraquinha e fajuta).

Nos tempos da ditadura militar, alguns companheiros – hoje no poder – sequestravam inimigos do povo e assaltavam bancos privados. Nos últimos 30 anos, preferem sequestrar palavras e assaltar cofres públicos. Antes, o príncipe socialista era militar e financeiro. Agora, é financeiro e cultural; aderiu ao capitalismo de Estado.

Os inimigos do povo mudaram de nome. Antes, eram os “agentes da CIA”, “lacaios do imperialismo”, “porcos capitalistas”. Hoje, são os “demotucanos”, “neoliberais” e “estadunidenses”.

Havia uma palavra: ética. Foi sequestrada no começo dos anos 90 pelos companheiros que pediam “ética na política”. Engolida pela política, a ética virou dialética. Hoje em dia, os companheiros decidem quem é honesto e quem é ladrão; quem é pacífico e quem é violento.

Havia uma expressão: liberdade de imprensa. Foi sequestrada pelos companheiros enquanto os senhores Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso ocuparam a Presidência da República. Só tinha validade quando os dois Fernandos estavam no poder. Assim que o sr. Lula da Silva ganhou a eleição presidencial, liberdade de imprensa se tornou sinônimo de “imprensa golpista”.

Havia muitas palavras: direitos humanos, anistia, cidadania, justiça social. Foram todas sequestradas. Em Cuba, os direitos humanos são crimes contrarrevolucionários. No Brasil, anistia é algo que só vale para os crimes cometidos pela esquerda. Cidadania para todos – menos para os conservadores. Justiça social é a justiça que não está na lei.

Em nossa cidade, havia uma deliciosa expressão para designar os nativos: pé vermelho. Fazia referência à cor do solo e apropriava-se, com orgulho, de uma antiga expressão pejorativa. Pois não é que os companheiros resolveram sequestrá-la também?

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