domingo, 10 de fevereiro de 2013

Déjà-vu

Sempre ouvi falar da "crise da meia idade" com a mesma descrença com que um amigo até hoje "truca" a ida do homem à lua. Usar a "crise" para justificar erros estava mais para baitolagem que para psicologia séria (se é que há algo de sério na psicologia), embora Elliot Jaques já tivesse ganho a "imortalidade" ao cunhar o termo em 1965, tendo ainda se transformado numa espécie de guru corporativo ao introduzir conceitos como o 'horizonte temporal do discernimento' (ou TSD - Time Span of Discretion), 'strato', o 'felt-pair pay' e outros em um sem número de trabalhos e livros.
Mas eis-me aqui, aos 46, sentindo algo que se parece um pouco com aquilo. Pra piorar, depois de surfar pelo Google e ler chunks do Dr. Jaques, descubro também que sua ciência corporativa é um dos rotores da minha descrença. Tudo parece miseravelmente correlacionado, e não por coincidência.
Às vezes considero mesmo que algo me antecipa um futuro, assim como uma bola de cristal intuitiva. Porém, cego, não decifro os sinais a tempo, só concluindo a posteriori quando juntar os pontos nada mais é que a derradeira constatação de que deveria ter levado mais a sério meus déjà-vus. Ou talvez seja como Ruth Rocha escreveu em 'O Menino que Aprendeu a Ver', nada mais que rever o mundo velho sob a perspectiva nova aberta por um insight ou novo aprendizado. É como deparar-se com a placa PARE tarde demais, após já ter passado o cruzamento. Frustrante. 

(...)

É carnaval. Na TV me esforço para entender a explicação surreal do apresentador - talvez lendo o prospecto da Escola acerca da ala ora filmada - ao mesmo tempo em que busco na imagem a correlação que nunca vem. Mulheres seminuas pululam sob a análise dos especialistas comentaristas e me perco ainda mais. A única inferência que me ocorre é por que algumas Escolas têm aqueles nomes,  'Acadêmicos do..."
É academicismo demais nos comentários, enquanto signficado e roupa de menos na avenida.
Mas como o João da Ruth Rocha, talvez apenas precise aprender a ver... o que também me ajudaria sobremaneira a entender art pop, música contemporânea e poesia concreta.

(...)

O ócio no carnaval e a "crise" me compeliram a achar o Dr. Jaques.
Me lembrei também da Ruth Rocha e de quando comprei o CD de seu livro e dei de presente para minha filha de 5 anos. Hoje ela tem 22.
Encerro querendo ser o Mainardi, exilado voluntário em seu apartamento existencial em Veneza fugindo de ser uma pantomima de si mesmo ao abandonar a pantomima oficial aqui desse nosso sítio. Ou talvez o Francis, como o fantasma do Metropolitan Museum em Nova York. Mas não tive ainda a mesma sorte, ou azar. E embora o patrulhamento me execre por isso, não dou a mínima para os facistinhas.

A disseminação de conceitos forjados ideologicamente dispensou sua explicação e análise transformando-os em verdades indiscutíveis, axiomas, embora seu fim seja apenas despertar na platéia, por força do automatismo decorrente do uso repetitivo e pseudo avalizado, as emoções e reações desejadas.

Em crise da meia idade sim... Deprimido?, um pouco.
Burro ainda não!
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Referências:

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