sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Traído manso


O Brasil assiste anestesiado aos descalabros e desmandos de um partido político que se assentou no poder e privatizou o pais em benefício próprio.
Privatizaram também as causas. 
Uma causa só merece atenção ou é boa caso atenda aos interesses do monstro. Para tanto, vale a relatividade como lei, embora a essa altura os pedaços que sobraram do cérebro de Einstein nas duas jarras deixadas no consultório do Dr. Harvey em Kansas estejam provavelmente se contorcendo pela simples referência sórdida à sua mais famosa teoria.

 (...)

A supersimplicação pela redução das premissas a 2 ou 3 jargões já deu… 
E o que dizer das justificativas? Batom na cueca!!! E dá-lhe explicações de palanque, as mesmas de sempre. Imprensa golpista, a "zelite" branca de olhos azuis, e toda aquela cantilena viciada baseada no estratagema erístico do desvio da atenção... e na linguagem macunaímica e molústica do chefe, claro. O negócio é tirar do foco a notícia, já que não há como refutá-la.

O que me "estarrece" é esse artifício continuar eficaz até mesmo em quem (supostamente) deveria ser menos suscetível à manipulação e engenharia social. Mas depois do Face e da MAV, e principalmente depois do que li no capítulo 19 do livro Networks, Crowds, and Markets: Reasoning about a Highly Connected World, escrito por David Easley e Jon Kleinberg, Cambridge University Press, 2010 (também on-line, http://www.cs.cornell.edu/home/kleinber/networks-book/), nada mais deveria me surpreender. 

E é ainda mais incrível que todo o falatório, toda a teoria sem lastro dos intelequituais - baseada apenas em ranços ideológicos ou utopias - continue pavimentando o marketing, a imagem em detrimento da realidade insopitável nos achacando lá fora.
E no fim, esse caso clássico de estelionato eleitoral/intelectual que se furta até mesmo de arrancar um suspiro discreto de indignação dos traídos, acaba por deixar a mim (logo eu?) "estarrecido". Logo eu?, me pergunto. Logo eu que nunca acreditei em duendes, ou em gênios operários, menos ainda em corações valentes, essas mitificações a serviço de mentiras de palanque?, me debato. Logo eu que aprendi com o R10 que “quando tá valendo, tá valendo”?, me questiono. Logo eu que já li alguns excerpts da obra de Roger Scruton?, insisto. Logo eu?, encerro.

 (...)

Embora os fatos desmintam as propagandas, que desmentiram antes a realidade já tão combalida pelas justificativas absurdas que à socapa tornaram-se a pedra filosofal da manipulação, mentira e amortecimento das reações de náusea, "... o pulso ainda pulsa". Matrifusias da MAV.
Portanto, quase tudo hoje em dia é debitado na conta da reforma política… ou da Ley de Medios… ou na conta de qualquer outro item da agenda. Pegou uma pneumonia? É culpa do PiG. Cura : marco regulatório. Perdeu o ônibus? Reforma política neles. 
É a panaceia, o  ToE (ou TGU, Teoria da Grande Unificação, na Física. E olha o Einstein ai de novo...) do partido. Assim nem mesmo cifras bilionárias causam dor no polvo.

 (...)

E eu cá me pego imaginando como pensam agora os que optaram pelas mentiras dos palanques, já que tudo foi desmentido pelos atos. E metido à matemático e lógico que sou, sabendo ainda das duas possibilidades, inocência útil(no limite da demência ou burrice, é bem verdade) ou picaretagem conivente, acredito que os primeiros justificariam o estelionato através de rotinas defensivas, por vergonha e incapacidade de assumir o erro. Já os outros, como detêm a mesma verve e falta de valores de quem apoiam, tirariam de letra e comemorariam com scotch ou champagne.
Permanecer no engodo e na mitificação deve ser mister aos primeiros (que continuem de “corações valentes”, de “gênios operários” … todos fofinhos até o dia do apocalipse), enquanto aos outros nada mais que continuar a  "encher as burras".

 (...)

A nós, transeuntes incautos, resta só um aviso: muito cuidado com sofás voadores vindos das janelas alheias. Ainda que só de passagem, o castigo pode acertar exatamente quem tem nada a ver com a mulher do corno.


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Chapa branca

Sem nada pra dizer dessas eleições (... que tédio), mas pra não parecer um alien, um ET, alienado ou o diabo que o parta, peço a ajuda do Thiago Amud.



E tenho dito!!!
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http://thiagoamud.com.br/

domingo, 19 de outubro de 2014

Face da mentira

Considero-me tímido. Qualquer arremedo de extroversão é resultado de um esforço calculado, a um preço que às vezes vem somado dos juros da náusea e do arrependimento. Dai qualquer tentativa de aumentar a popularidade sair tão forçada... Claro, porque é forçada mesmo.

(...)

No mundo virtual não é diferente; aqui permaneço o mesmo. Como o Durango Kid do Toninho e Brant, "... hoje eu sou, o que eu fui. Não desmenti, o meu passado". Aliás, nessa idade seria no mínimo ridículo.
Tenho vergonha de avatares... vergonha alheia. Pois então nunca criei um meu. Se é pra ir, que vá "com casca e tudo" mesmo.
Também desconfio da perfeição. Aprendi há tempos que "de perto ninguém é normal". Além do mais, só de pensar em jogar pra platéia um monte de cacos de mim me dá arrepios.
Coloco-me então atrás do nome complicado desse blog só para exercer a megalomania e egolatria comuns à raça humana, da qual, tudo indica, sou também um espécime. Afinal de contas, todo mundo precisa de um pouco de atenção. Mas aqui com a vantagem de ser procurado, não empurrado goela abaixo. 
P.S. Grato aos meus 3 ou 4 bravos leitores.

Cá sou o demiurgo de mim mesmo, estabelecendo as regras de minha democracia no meu pedaço exclusivo da net, meu domínio(o nome faz todo o sentido. O domínio strategosaristides.com é mesmo meu. Comprei e paguei) : aqui falo o que quiser... e comentários (bons ou ruins) têm peso... só que igual a zero. Às vezes até massageiam o ego, noutras despertam a ira do superego, esse vaidoso arrogante metido a perfeitinho. Mas lembro-me logo depois que sou apenas um tolo, e dou de ombros. Além do mais, nunca entendi muito bem dessas complicações Freudianas. Nocauteio assim o superego todas as vezes que me vem com o impulso de inventar um avatarzinho no Face. Poupo o mundo das minhas tolices diárias. 

(...)

Confesso porém que sou um viciado em observar o Face, como um voyeur antropológico (eita pedantismo...) ou simplesmente mais um aficionado por revistas de fofocas e outras idiotices afins. Mas não tenho orgulho disso, é só uma fraqueza, como torcer para o Cruzeiro ou gostar de Campari. 
Nessa época de eleição, porém, a barra tava ficando pesada demais. Perdia minutos rolando a barra de feeds até poder ver uma postagenzinha leve como o selfie de uma festa, o lugar de uma viagem, uma filosofada boba com ar de profundidade, essas amenidades que de certa forma divertem ao invés de cansar. 
Até que descobri a opção 'deixar de seguir...'. Pronto! Salvo do proselitismo político chulo engendrado antes pelos think tanks manipuladores de inocentes úteis, os discursos sem lógica, apócrifos de todas as cepas, dados falsos, argumentos de autoridade de gente tão idônea e imparcial quanto guerreiros do povo brasileiro. É muita "luta" pra quem quer só passar incólume sendo um canalha a menos na face da terra. 

Mas o primarismo do maniqueísmo forçado do bem e mal, direita e esquerda, mais os argumentos diversos que leio, ainda continuam de matar. Vão lá os avatares a vociferar sua bondade, intelecto, cultura, engajamento e já me dá um nó no estômago.
Nesse ritmo, acabo ficando sem um único "amigo" pra seguir no Face e terei de suprir minha fraqueza inglória assinando a revista Caras.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Lista Branca

Após meu arremedo frustrado em tornar-me um matemático, isso lá pelos anos 1980, tomei ainda mais gosto pelo triunvirato 'hipótese-tese-demonstração'. Ainda que não tivesse competência para seguir, ou talvez por isso mesmo, passei a gostar sobremaneira de teoremas, provas, demonstrações. 
Dai minha compulsão em entender, pensar, criticar, inferir antes de concluir alguma coisa. E caso provem o contrário, mais que feliz em rever minha posição. Já assimilei bem a regra socrática: aceito primeiro a própria ignorância.

Portanto, caso algum "iluminado" lance listas negras e comporte-se como inquisidor tirando de você o fardo da leitura e análise que deveria ser só seu, e pior, você ainda concorde servilmente... bem, você pode "estar" um militonto do xadrez político, inocente útil da engenharia social ou é definitivamente um picareta em busca de sinecuras.
Para os dois primeiros casos há cura e sugiro a expansão do espectro da leitura. Desconfiar já é um bom começo. Quando alguém recomendar que algo não deva ser lido, visto, ouvido, é a deixa... faça rigorosamente o contrário. O autor está na lista negra?, passe a ler e preste ainda mais atenção em busca do porquê da proibição. Na seara do pensar, é proibido proibir (ainda que a frase soe mais como uma contradição lógica. Talvez um oxímoro e ai me salvo do vexame... Sei lá. Não importa).
Para o último... bom, não sei se há esperança. Afinal, Maluf, Sarney, Collor continuam ai a indicar não haver mesmo limite para o fisiologismo e picaretagem deslavadas.

Mas se até a leitura de Mein Kampf é útil caso queiramos combater efetivamente neonazistas refratários, dissequemos sem dó todas as listas negras.
Ideias devem ser contestadas com ideias, não com fogueiras, expurgos, gulags, paredões. Listas são coisa de autoritários... ou de seitas obscuras.

Uma muito boa do Magnoli
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/demetriomagnoli/2014/09/1511975-fogueiras-da-razao.shtml

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Imagem: www.taringa.net

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Homem simples


Relatei a um amigo o niilismo político que me abatera e afastava de mim esse cálice do desejo voluntário por sessões de sadomasoquismo na TV Câmara/Senado, autoimolações em nome de causas no Face (pela mais absoluta falta delas), etc. etc. etc.

Se assistira ao debate???
Precisava responder???

Eis que chego em casa e revejo o Mainardi num artigo na Folha.

Concluo envaidecido: sou também um homem simples...
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/182616-sou-marina-ate-a-posse.shtml
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Imagem: Leonardo da Vinciwww.girafamania.com.br

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Caleidoscópio


Não vi coisas que vocês nunca acreditariam. Nem naves de ataque em chamas perto da borda de Orion, nem a luz do farol cintilar no escuro na Comporta Tannhauser. 

Esses momentos perdidos no tempo como lágrimas na chuva pertenceram a Roy, o replicante que em seu momento derradeiro poupou seu algoz e caçador, Deckard, personagem protagonizado por Harrison Ford em Blade Runner, de 1982. 
O filme foi mal nas bilheterias mas virou um clássico cult, o que faz todo o sentido.

No limiar do fim Roy sabia exatamente o valor da vida, e poupou Deckard dando-lhe a chance que dele fora tirada... seguir vivendo.

Vi coisas... terras, gentes, lugares que nunca imaginei vislumbrar um dia. Não sei bem ao certo como tudo aconteceu, sei apenas que havia alguém ao meu lado a soprar-me a confiança, a petulância e coragem dos valentes. Também fui poupado, como Deckard em Blade Runner.
Não, não é muito... talvez quase nada. Mas dessas lembranças ainda pinço o dia em que me embrenhei em braçadas pelo Araçuaí, rio ardiloso depois das chuvas de Dezembro no Vale. Lembro também da fachada da casa do Zé da Toca e da "fonção" em Cachoeira à noite, para onde nos dirigimos depois da acolhida rápida em Santa Rita na casa do Zéa quem demos carona de Minas Novas no Maverick do Quilim naquele dia
E subitamente estou na Grand Place num feriado, tiro algumas fotos do carpete de flores cuidadosamente montado na praça para me perder logo depois em lembranças de Asakusa, Tóquio, e seu templo budista dedicado ao bodhisattva Kannon... um bodhisattva que personifica a caridade, caridade que o criador não teve para com Roy.

New Orleans e o beignet do Café Du Monde no French Corner, o Mississipi ao fundo a me lembrar o Araçuaí, da Toca, Cachoeira e a "fonção", a Grand Place, Asakusa, Kannon e a caridade. 
Chicago logo ali a provar que o mundo é mais que nossa perspectiva provinciana e xenófoba das coisas. New York e a neve intensa de Fevereiro ou as Ramblas em Barcelona e o Mercado La Boqueria, onde quis que o João Paixão estivesse presente, ele que é louco pelo Mercado Municipal de Belo Horizonte e por tantos outros mercados, em tantos outros lugares. 

Lembro então da última vez em que estive com meu velho no Mercado em Minas Novas. Minha mãe contou que em seu momento derradeiro, no limiar de entregar sua lucidez, ainda preocupou-se e perguntou a si mesmo: "o que eu vou fazer ?" num monólogo final.
De lá para o Sena, o Thames em London ou o Danúbio em Budapeste... O air racing no St. Stephen's Day e o mergulho dos monomotores na parte final do circuito deixando um rastro de fumaça debaixo da Chain Bridge, todos a me trazerem de novo o Araçuaí, o Mississipi, os beignets do Café Du Monde, a New Orleans do French Corner, Mardi Gras, o mercado e o carnaval em Minas Novas. O manneke pies, o d'Orsay na beira do Sena... a Mona Lisa, o Louvre. 

Luca, um italiano que conheci em Palo Alto e um link que me enviou do YouTube com um show ao vivo do PFM em 2010, o mesmo PFM do clássico Chocolate Kings que herdei sem querer do Tião. Dos chocolates que comprei na Filip Martin na Rue au Beurre próximo à Grand Place... e de novo Asakusa, o templo budista de Kannon e a caridade... caridade que Roy nem outros receberam. A Golden Gate ou um festival de verão em Viena. Mozart ou o PFM, os chocolates. O choro e a saudade do meu pai no Hotel no City Centre, a caridade de Kannon, a falta dela no criador de Roy.

A Catedral Saint-Bavon em Ghent em 2007, um dia perdido no tempo, um grito. A vela que acendi para meu irmão e outros que haviam partido.
A Igreja St. Nicholas perto da Filip Martin dos chocolates em 2014 onde rezei depois de tantos anos e pedi misericórdia... 
A Deus... Por meu pai... a meu pai... por todos nós.

"Saudade é o pior tormento..."

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Imagem: http://www.cameraviajante.com.br/caleidoscopio.html

sexta-feira, 25 de julho de 2014

E la nave va



Há críticas à hierarquia das necessidades de Maslow.
Exemplos:
(1) Em sua extensa revisão das pesquisas que são dependentes da teoria de Maslow, Wahba e Bridgewell[1] acharam pouca evidência desta hierarquia de necessidades, ou mesmo da existência de alguma hierarquia. [2]  

(2) O economista e filósofo chileno Manfred Max Neef tem argumentado que as necessidades humanas fundamentais são não-hierárquicas e são ontologicamente universais e invariáveis em sua natureza - parte da condição de ser humano. [2]

É fato... Talvez não haja mesmo hierarquia em direção à autorrealização. Pessoas podem estar realizadas ainda que não satisfeitas todas as necessidades na base da pirâmide. Regardless, o modelo é poderoso e permite inferências interessantes, caso o adotemos com a ressalva dos exemplos acima. Com efeito, inicio por Maslow a autoanálise premente, oxalá também fértil na gestação de explicação que me traga algum lenitivo. Afinal, creio em Victor Frankl e na "plenitude de sentido".

(...)

Presumo ter passado “incólume” pelas etapas hierarquicamente anteriores à Estima. Sinto-me pleno com relação a tais quesitos... at least for now.
No entanto, há quase dois anos patino no mesmo degrau e não alcanço o seguinte, acima.
Na verdade, como consequência, sinto-me longe da Realização Pessoal, embora isso somehow endosse Maslow e desminta alguns de seus detratores, já citados acima.
Adicionalmente, sofro também de uma espécie de cientificismo diletante, o que me torna um fã inveterado da causalidade.
Desconsidero por hora, no entanto (por mera ignorância e incompetência, diga-se de passagem), complicações filosóficas sobre determinismo ou livre-arbítrio, já que exteriores ao assunto que desejo explorar.

Buscando então causa(s) para minha frustração, olhando para trás no tempo, deparo-me com um evento, a ignição de minha tristeza e tento elucidar assim sua real causa e efeitos nefastos. Para tanto, talvez tenha que dar um salto pra dentro de mim e contar com o Dr Google como meu Virgílio.

Vem de minha infância um pavor obtuso do ridículo, da exposição. A despeito de minha mineirice(que talvez explicasse introversão mas não exatamente timidez), tem de haver outras causas.
O Dr Google me explica o seguinte :
Introversão(referência: https://www.psicologiamsn.com/2011/12/timidez-e-psicologia.html)
O conceito de introversão foi criado pelo psicólogo suíço C. G. Jung.
A psique, ou alma, tem desde a primeira infância duas atitudes possíveis: pode se voltar mais para o mundo interno, ou pode se voltar para o mundo externo. Com efeito, dois tipos de atitude (ou personalidade) afloram: o tipo introvertido e o tipo extrovertido.
A diferença entre timidez e introversão é que a segunda é uma atitude psíquica de introspecção, voltar-se para si mesmo. Ao invés da consciência olhar para fora, para o meio ambiente e para as outras pessoas, a psique prefere conhecer a si mesma, conhecer o seu próprio mundo de experiências internas. Mas isso não significa necessariamente timidez como veremos a seguir.


Fraca autoimagem. Isto é especialmente verdade para pessoas que sofreram experiências negativas de afronta e diminuição de si mesmas. Isso pode levar à crença negativa nas qualidades pessoais (não são interessantes ou dignas de admiração). E embora haja o esforço por equiparar-se às outras pessoas(padrão do grupo do qual faz(ou almeja fazer) parte), o resultado pode ser um sentimento pejorativo acerca de si mesmo afetando auto-estima e auto-confiança.
Preocupação consigo mesmo. Algumas pessoas, perto de outras pessoas, tornam-se extremamente sensíveis ao que estão fazendo, como se estivessem no centro do palco. Isso cria ansiedade e faz com que questionem cada movimento que executam. Fica-se com a atenção autocentrada, em particular sobre: “O que eu estou fazendo de errado?”. Isto pode causar uma espiral descendente de negatividade.

A timidez portanto desenvolve-se em torno de três componentes:
·         Excesso de autoconsciência (introversão).
·         Excesso de autoavaliação negativa (fraca autoimagem).
·         Excessiva autopreocupação (preocupação consigo mesmo).


Nota-se então que a introversão é condição necessária mas não suficiente para a timidez, que tem adicionado o fator insegurança à equação.


Depois desse exercício, tento explicar a mim mesmo as causas e efeitos do famigerado evento rotor de minha depressão prolongada:
Ao ser exposto e confrontado pela falta de conhecimento num determinado tópico, reagi com agressividade, acuado pelo pavor da exposição e abastecido pelo receio de afundar-me em ‘fraca autoimagem’. A partir dali, agora também perseguido pela ‘preocupação comigo mesmo’, tornei-me - como numa professia autorrealizável - tudo o que mais tentava evitar. Claro, tudo isso insuflado ainda mais pela agressividade proporcional do outro lado. A depressão seguiu-se como consequência inevitável.
Indo ainda mais longe, parece-me imediata a conclusão de que sou introvertido e que sofri das causas da timidez na tenra infância (não procuro culpados, though. Já passei dessa fase). Portanto, os componentes e condições estavam todos lá e tornei-me tímido.
Lutei contra isso e atingi, na maturidade, nível aceitável de autoconfiança - basicamente o antídoto para o introvertido vencer a timidez.
Constato porém que depois de anos isso talvez tenha se cristalizado e passei a sofrer de um efeito colateral indesejado: excesso de confiança. A arrogância que adveio sem dúvida potencializou ainda mais a sensação de autoconhecimento, que provou-se falsa, além de maquiar a timidez latente.


Diante de tal confusão, minha autoimagem ruiu. Meu castelo era de areia, no final das contas. Não me conhecia o suficiente nem tive a humildade de aceitar minhas falhas, por excesso de confiança.
O que veio depois, além da depressão, foi o recrudescimento da timidez e seus efeitos deletérios mais uma profunda falta de motivação.


Ao escrever essas linhas, me embrenho na tentativa de purgar o mal com palavras e retomar meu caminho. É imperativo prosseguir... não só como garantia da subsistência mas também na busca de um sentido maior, que descobri vacilava ou carecia de maior justificativa.
É claro que externamente sempre haverão culpados, que de certa forma podem iniciar seu processo de autoimplosão. Porém devemos também agradecê-los, ainda que desaprovemos frontalmente seus métodos, bullying e assédio ofensivo. Isto porque promovem à socapa um aprendizado e autoconhecimento que se bem digeridos tornar-se-ão estímulos a seu crescimento. Claro, caso você vença primeiro o trauma e humilhações do confronto e continue...
No meu caso, tal confrontação postou-me diante de minha incapacidade com figuras difíceis (e poderosas) e meu parco conhecimento de mim mesmo.

(...)

Conhece-te a ti mesmo ...
Na falta de um Oráculo de Delfos na vizinhança, levei meses para entender que necessitava olhar para dentro e me livrar da tentação comum de atribuir a responsabilidade a outrem. Ao quebrar a mão invisível que manipulava minha consciência, vi que criei à imagem e semelhança de um algoz externo minhas próprias amarras, e pior, alguém a quem atribuir a culpa e me eximir da inércia. Esse é um círculo vicioso da depressão.


Dito isso, paro de ruminar o acontecido e me livro da mágoa, porque como diria Chico, “apesar de você, amanhã há de ser outro dia...”.
Além do mais, continuo almejando a autorrealização e embora não consiga vislumbrar claramente o caminho para ela nesse momento, alguns indícios me apontam a direção e retomei a caminhada.
Não sei quando(se) vou alcançá-la... Mas tenho a certeza de que sempre estarei um passo mais próximo caso continue andando... Então ando... e ando... e ando...


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Figure: J. Finkelstein (translated to pt-BR by Felipe Sanches) - Based on http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Maslow%27s_hierarchy_of_needs.svg
[1]  Wahba, A., & Bridgewell, L. (1976). Maslow reconsidered: A review of research on the need 
hierarchy theory. Organizational Behavior and Human Performance, 15, 212-240. 
[2] Excerpts from Wikipédia

E la nave va (em Portugal intitulado O Navio) é um filme italiano de 1983 dirigido por Federico Fellini.

sábado, 12 de julho de 2014

Loa

Futebol e política se fundiram na ruindade.

Eis que flanando (tecnicamente morto) em meu limbo, sou salvo pelo Vander.
Ave Lee!


sexta-feira, 4 de julho de 2014

"Não li... e não gostei"

Da Dialética Erística de Schopenhauer aprendi o seguinte:

'Argumentum ad hominem (latim, argumento contra a pessoa) é uma falácia identificada quando alguém procura negar uma proposição com uma crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo. Um argumentum ad hominem é uma forte arma retórica, apesar de não possuir bases lógicas.

A falácia ocorre pois conclui sobre o valor da proposição sem examinar seu conteúdo, o que é absurdo.

O argumento contra a pessoa é uma das falácias caracterizadas pelo elemento da irrelevância, por concluir sobre o valor de uma proposição através da introdução, dentro do contexto da discussão, de um elemento que não tem relevância para isso, que neste caso é um juízo sobre o autor da proposição.

Pode ser agrupado também entre as falácias que usam o estratagema do desvio de atenção, ao levar o foco da discussão para um elemento externo a ela, que são as considerações pessoais sobre o autor da proposição.' [1]

Trata-se inequivocamente de uma falácia.
Eu, que a contragosto, claro, leio o Boff, o Quartim, o Safatle e uns tantos outros, confronto seus pontos de vista contra a lógica, a história, a filosofia, o Google, enfim…

Esse Google é mesmo de matar, não há mesmo chance do engodo caso queira pesquisar, estudar e dispender o  tempo necessário confrontando fontes e fatos.

Portanto, a priori, não mais invalido um argumento de antemão pelo atalho fácil do descredenciando da fonte. A menos que venha de um Delúbio ou do Zé… Ai também já seria demais. E embora escravos da ideologia (e não da lógica) sejam mesmo suspeitos compulsórios de seus pensamentos e opiniões - já que reféns de um silogismo às avessas onde a conclusão pré-fabricada (alinhada a seus interesses ideológicos) determina as premissas adequadas para justificá-la, e não o contrário -, ainda mantenho a boa fé inicial na leitura. Nunca se sabe... em meio ao lodaçal pode-se trombar com um diamante. Mas infelizmente, no mais das vezes só dou mesmo é com os burros n’água.


Todavia, ser confrontado sem ser compreendido, e mais, taxado de manipulado tendo como argumento de autoridade a falácia ad hominem no descredenciando de autores citados é mero jogo baixo. Não há possibilidade de debate produtivo quando toda sorte de estratagema erística pauta a discussão, ao invés da lógica.
É impossível ser compreendido caso o leitor simplesmente NÃO leia o que você escreveu. Se a partir de um prejulgamento ou dedução apressada o oponente discorra sobre o que ele ACHA que você escreveu (ou escreveria) com a prepotência de um vidente que antecipa seu pensamento antes mesmo do intróito, remido ainda do fardo maior de ser cuidadoso e averiguar fontes, conceitos e fatos, não estamos mais que num hospício, onde a despeito do barulho, o debate é inócuo e a própria voz não lhe parecerá mais que um grunhido ininteligível.
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Fonte: [1] Wikipédia

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Notinhas Cínicas

A maioria de nós persegue desesperadamente justificativas e traços que nos tornem diferentes dos outros, únicos. É uma espécie de compulsão.
Sentimo-nos beijados pela providência como se Deus tivesse escolhido entre as mais de sete bilhões de pessoas do mundo você, sim, você mesmo, com toda a sua falta de graça, propósito, talento, realizações. Afinal, os desígnios de Deus são inescrutáveis, você pontuaria ao final.

Isso é absurdamente comum. Todos os dias vemos depoimentos de inebriados por orgulho ou vaidade catapultando sua própria importância à estratosfera, como que pudéssemos esperar, a partir dali, uma mudança certa no curso da história como consequência do resto de sua existência; Ou tolices vindas de celebridades - ainda mais comum - adoecidas pela fama e exposição, mesmo que sua maior contribuição tenha sido o Xou Da Xuxa, a supressão do plural na linguagem coloquial ou o chicote da Tiazinha.
Na maioria das vezes nada acontece... ou acontecerá por causa disso e o mundo permanecerá do jeito que é e seguirá seu curso natural, por razões óbvias. Mas quase todo mundo quer ser o novo Gandhi, ou Churchill, ou Che, ou Mandela, ou Lenin, fazer a diferença. Uns tem isso em maior grau, outros em menor.

(...)

A autocrítica necessária e o senso das proporções é o que me separa, por exemplo, de Wagner ou de Zé Camargos. Definitivamente não comporei uma Cavalgada das Valquírias nem terei o talento comercial que não adquiri até hoje, aos 47.
Mas autocrítica e senso das proporções parece luxo que não existe mais hoje em dia, tempo dos avatares. Todo mundo é sensível demais, justo demais, altruísta demais, culto demais... Não há feiura nem burrice, só perfeição, ainda que veleidade mais irreal que o socialismo inevitável.

Miseravelmente, a preparação e o conhecimento desses falsos diferentes costuma ser inversamente proporcional à sua megalomania e egolatria. Que o diga Kanye West, ou Lula.

Para muitos de nós, cuja existência está circunscrita ao nosso comezinho jeito de ser, a saída é broadcast nossas causas, lutas e mais o diabo que o parta nas redes. Mesmo que nossa compreensão acerca do que falamos não consiga nem mesmo atravessar a rua. Quem se importa? Uma imagem vale mais que mil ações... da Petrobras. E quem lê não sabe patavina mesmo?!?! e não tá nem ai. É um circo de horrores: avatares celebrando sua dignidade, altruísmo, abnegação, cultura e tudo o mais que efetivamente não têm nem os diferencia de qualquer outro idiota, como eu. Fakes por tras de um nome e uma foto no Face. Afinal é tudo virtual mesmo, fictício, incluindo ai as qualidades das quais se gabam incessantemente. É a chance de construir sua autoimagem ideal.
Por outro lado permite que pessoas não tenham de enfrentar a dura realidade do espelho, deparar com suas inexpressivas e inúteis existências. Se lá atrás acharam-se os escolhidos, diferentes tal como Jobs ou Einstein, Paul McCartney ou Schopenhauer... têm a obrigação agora de provar a que vieram...
E dá-lhe besteira.

(...)

A soberba, sétimo pecado capital, é o preferido do capeta, pelo menos para Al Pacino em o Advogado do Diabo.
Roger Scruton já teorizou como sonhadores inescrupulosos desconsideram a natureza humana para vociferar que podem mudar o mundo. Estabelecer um objetivo nobre desconsiderando irresponsavelmente o choque entre epifania e realidade ou os efeitos colaterais de sua execução é nada mais que demagogia ideológica. A história do século passado nos mostra que via de regra essa obsessão sempre termina em cerceamento das liberdades e morticínio.

(...)

Alex Fleming e a penicilina mudaram o mundo. O computador e a Internet mudaram o mundo, tanto quanto os foguetes V-2. Gutenberg mudou o mundo. Henry Ford mudou o mundo.

Eu cá sou infinitamente mais modesto. Tento acreditar apenas ser um canalha a menos na face da terra. Servir minha família já é a missão da minha vida e considero-a tão nobre quanto o Teorema de Pitágoras. Afinal, sei que Pitágoras não sou e entre o teorema e os meus, adeus matemática. É bom ter ciência de sua insignificância.

(...)

[O cinismo foi uma corrente filosófica fundada por um discípulo de Sócrates chamado Antístenes, cujo maior nome foi Diógenes de Sínope, por volta de 400 a.C., que pregava essencialmente o desapego aos bens materiais e externos. O termo passou à posteridade como caraterização pejorativa de pessoas sem pudor, indiferentes ao sofrimento alheio (que em nada se assemelha a origem filosófica da palavra).
Esta atitude era parte de uma procura da independência pessoal. Alguns foram longe demais, rejeitando mesmo as decências básicas. Para poderem manter a compostura face à adversidade, reduziam as suas necessidades ao mínimo para garantir a sua autossuficiência. Mais do que uma teoria, era um modo de vida.1 Para os Cínicos, a vida virtuosa consiste na independência, obtida através do domínio de desejos e necessidades, para encorajar as pessoas a renunciarem aos desejos criados pela civilização e pelas convenções. Os cínicos empreenderam uma cruzada de escárnio anti-social, na esperança de mostrar, pelo seu próprio exemplo, as frivolidades da vida social.2 ]

Queria mesmo era ver os avatares realizando seu palavrório, como Diógenes nas ruas de Atenas. 
Menos imagem e mais atitude. 
Menos Internet e mais filósofos em barris pela rua.
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Figura: Diógenes, de John William Waterhouse

Texto entre colchetes[ ] acima retirado da Wikipédia com as referências abaixo:
  1. Ir para cimaDicionário de Filosofia coordenado por Thomas Mautner. Editora 70, 2010
  2. Ir para cimaSimon Blackburn, Dicionário de Filosofia. Gradiva, 1997

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A volta do guará... ou: Missiva


Para Tusta... pai segundo.

Entre nossa penúltima e última vez muita coisa mudara. O pomar, a horta, as flores, a grama, as novas construções da fazenda. 
No entanto, duas permaneceriam perturbadoramente inertes, soltas em nossa órbita como se 1 ano, 365 dias não fossem suficientes para transladar um estado de espírito, trazer o inverno de uma opinião do estio...

A primeira fora definitivamente nossa perspectiva dicotômica acerca de nossas escolhas... racionalismo ou fé, realismo ou idealismo, multiculturalismo ou antropofagia, xenofilia ou chauvinismo, conservadorismo ou progressismo... 
Nesse ponto, considerei - como de costume - positivos nossos embates. Afinal, lembrando o bendito "maldito" Itamar Assumpção cheguei até mesmo a cantarolar mentalmente,
"(...)Aprendi que viver cansa, mesmo vivendo na França
Mesmo indo de avião
Aprendi que a desavença é por que sempre alguém pensa 
Que ninguém mais tem razão
Aprendiz de feiticeiro
Aprendiz de feiticeiro
Aprendi que tudo passa, tomando chá ou cachaça
Tomando champanhe ou não..."

Diferenças eram naturais e pautariam para sempre o que nos tornava... indivíduos, únicos.

Porém, a segunda despertara nele a mesma reação, a mesma dor de um ano antes. Abateu-me... 
  
(...)

Nada sabia... nem nutria pretensão alguma de tornar-me um cordeiro de Deus como minha mãe... fosse por mérito ou arrogância. Ao contrário, soubera sempre foi da miopia e insignificância que me perpassavam, ainda que fizessem de mim não mais que um errante crivado de dúvidas. Desconfiava mesmo ser capaz de remir os erros todos, um dia.

Ainda assim, num rompante indignado, eximi-o da culpa asfixiante, da dor que carregava pelo desacerto do qual não fora a causa nem o meio, da responsabilidade, enfim. Fazia isso ainda que soubesse ser ninguém autorizado a remir vícios, reaver almas cansadas, combalidas. Naquele instante, absorvia sua dor, digeria sua culpa e sabia, não a merecia... Não aquela, disso tinha certeza.
Lembrava ao mesmo tempo que tal sentimento fizera de minha mãe um zumbi insone, mera escrava autoencarregada da expiação dos pecados do "mundo" - ou dos outros. No entanto, com ela qualquer diálogo teria sido absolutamente impossível.

   Sabia... 
   Até certo ponto, todos somos responsáveis por nossas escolhas. 

(...)

Não citando o autor, retirando assim a possibilidade de julgamento ad hominem, enviei-lhe a missiva e pedi que lesse.

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Thomas Sowell dizia: “Nunca entendi por que é ‘ganância’ você querer conservar o dinheiro que ganhou, mas não é ganância querer tomar o dinheiro dos outros.” Mutatis mutandis, a obrigação moral que os ricos têm de ajudar os pobres, mesmo quando seja tomada em sentido absoluto e intransigente, não implica jamais que os pobres tenham o “direito” de ser ajudados.
Todo direito de um implica obrigações para algum outro, mas nem toda obrigação que pese sobre alguém gera direitos para quem quer que seja.
A razão disso é simples e auto-evidente: toda e qualquer obrigação moral ou legal é relativa porque limitada à disponibilidade de meios, ao passo que um “direito”, uma vez consagrado, é universal e incondicional. Decretado que os pobres têm “direito” à ajuda estatal ou privada, a simples inexistência dos meios de ajudá-los se torna automaticamente algo como uma ilegalidade ou um crime, e a sociedade inteira, quanto mais pobre, tanto mais merecerá o rótulo de criminosa, de modo que a pobreza de uns será uma espécie de mérito e a de todos um delito abominável. Se isto está muito sintético, analisem e verão que é certo.
 Da incompreensão dessa obviedade deriva a noção monstruosamente perversa de que uma sociedade onde haja pobres, ou muitos pobres, é uma “sociedade injusta”. Em princípio, e à luz da razão, toda obrigação moral ou legal está condicionada à regra áurea do Direito: Ad impossibilia nemo tenetur, “ninguém é obrigado ao impossível”. Por isso mesmo a obrigação de ajudar os pobres não dá a estes nenhum direito de exigi-la. A absurdidade dessa exigência aparece nítida no delírio de Luís da Silva no romance Angústia de Graciliano Ramos:
“Há criaturas que não suporto. Os vagabundos, por exemplo. Parece-me que eles cresceram muito, e, aproximando-se de mim, não vão gemer peditórios: vão gritar, exigir, tomar-me qualquer coisa.”
E Luís da Silva não é nenhum burguês atemorizado ante a revolta dos infelizes. É ele mesmo um pobretão ressentido, sem dinheiro para o aluguel. Só no mundo das alucinações a pobreza é, por si, fonte de direitos.
Antigamente, até os marxistas compreendiam isso. Julgavam que o proletariado industrial tinha o direito de expropriar a burguesia não pelo simples fato de ser pobre, mas por ser o criador material da riqueza social. A horda de miseráveis improdutivos, o Lumpenproletariat, não lhes merecia senão desprezo. É o óbvio dos óbvios: ninguém se torna um “expoliado” pelo simples fato de estar sem dinheiro. Para ser um expoliado é preciso produzir primeiro alguma coisa e depois ser despojado dela injustamente. Como o proletariado se recusou a aderir às revoluções, os teóricos do marxismo promoveram a escória lumpenproletária ao estatuto de credora universal e portadora, ipso facto, da autoridade intrínseca das virtudes morais faltantes ao resto da sociedade. Daí ao endeusamento dos delinqüentes o passo é bem curto.
Da insensibilidade a esses fatos vem a noção de “dívida social”. Qualquer candidato que proponha a sua eleição como o pagamento de uma dívida social é, com toda a evidência, um charlatão do qual não se pode esperar nada de bom. Se a dívida existe e é social, não pode ser jamais resgatada mediante pagamento a um só indivíduo. O fato mesmo de que este se apresente como credor simbólico, herdeiro e resumo vivo de várias gerações de interesses lesados, já mostra que se trata de um vigarista, pois nem aceita pagamento simbólico nem tem como repassar o pagamento efetivo aos credores defuntos de cujo crédito se apropria indevidamente.
Todo eleitor em seu juízo perfeito deveria pensar nisso antes de votar em tipos como Luís Inácio Lula da Silva ou Barack Hussein Obama. Mas, tão logo a pobreza se torna fonte de “direitos”, é inevitável que o carreirista desprovido de méritos próprios se invista de prerrogativas imaginárias derivadas da pobreza alheia, impondo-se como recebedor único da “dívida social” -- um vigarista elevado à segunda potência. [1] 
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Ao final pontuei: sabia que não negaria ajuda... nunca. Como minha mãe, permaneceriam pra sempre subjugados ao sangue e ao fervor cristão... ou ao superego. Aquilo dava-me certa inveja até, afinal, nunca tivera tal pretensão, preso à minha insípida pequenez mundana.

Sabendo que a culpa não lhe cabia, cabia menos ainda em minha mãe, pedi-lhe que se livrasse dela, que voltasse por mim a procurar o lobo guará da mata, cuja presença não sentia mais ali.

Era aquilo ou eu mesmo me afogando em culpa, sem beira, incólume como se tivesse apenas uma pedra no peito.
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[1] Olavo de Carvalho [in: Duas Notas], Diário do Comércio, 8 de janeiro de 2013.