sexta-feira, 25 de julho de 2014

E la nave va



Há críticas à hierarquia das necessidades de Maslow.
Exemplos:
(1) Em sua extensa revisão das pesquisas que são dependentes da teoria de Maslow, Wahba e Bridgewell[1] acharam pouca evidência desta hierarquia de necessidades, ou mesmo da existência de alguma hierarquia. [2]  

(2) O economista e filósofo chileno Manfred Max Neef tem argumentado que as necessidades humanas fundamentais são não-hierárquicas e são ontologicamente universais e invariáveis em sua natureza - parte da condição de ser humano. [2]

É fato... Talvez não haja mesmo hierarquia em direção à autorrealização. Pessoas podem estar realizadas ainda que não satisfeitas todas as necessidades na base da pirâmide. Regardless, o modelo é poderoso e permite inferências interessantes, caso o adotemos com a ressalva dos exemplos acima. Com efeito, inicio por Maslow a autoanálise premente, oxalá também fértil na gestação de explicação que me traga algum lenitivo. Afinal, creio em Victor Frankl e na "plenitude de sentido".

(...)

Presumo ter passado “incólume” pelas etapas hierarquicamente anteriores à Estima. Sinto-me pleno com relação a tais quesitos... at least for now.
No entanto, há quase dois anos patino no mesmo degrau e não alcanço o seguinte, acima.
Na verdade, como consequência, sinto-me longe da Realização Pessoal, embora isso somehow endosse Maslow e desminta alguns de seus detratores, já citados acima.
Adicionalmente, sofro também de uma espécie de cientificismo diletante, o que me torna um fã inveterado da causalidade.
Desconsidero por hora, no entanto (por mera ignorância e incompetência, diga-se de passagem), complicações filosóficas sobre determinismo ou livre-arbítrio, já que exteriores ao assunto que desejo explorar.

Buscando então causa(s) para minha frustração, olhando para trás no tempo, deparo-me com um evento, a ignição de minha tristeza e tento elucidar assim sua real causa e efeitos nefastos. Para tanto, talvez tenha que dar um salto pra dentro de mim e contar com o Dr Google como meu Virgílio.

Vem de minha infância um pavor obtuso do ridículo, da exposição. A despeito de minha mineirice(que talvez explicasse introversão mas não exatamente timidez), tem de haver outras causas.
O Dr Google me explica o seguinte :
Introversão(referência: https://www.psicologiamsn.com/2011/12/timidez-e-psicologia.html)
O conceito de introversão foi criado pelo psicólogo suíço C. G. Jung.
A psique, ou alma, tem desde a primeira infância duas atitudes possíveis: pode se voltar mais para o mundo interno, ou pode se voltar para o mundo externo. Com efeito, dois tipos de atitude (ou personalidade) afloram: o tipo introvertido e o tipo extrovertido.
A diferença entre timidez e introversão é que a segunda é uma atitude psíquica de introspecção, voltar-se para si mesmo. Ao invés da consciência olhar para fora, para o meio ambiente e para as outras pessoas, a psique prefere conhecer a si mesma, conhecer o seu próprio mundo de experiências internas. Mas isso não significa necessariamente timidez como veremos a seguir.


Fraca autoimagem. Isto é especialmente verdade para pessoas que sofreram experiências negativas de afronta e diminuição de si mesmas. Isso pode levar à crença negativa nas qualidades pessoais (não são interessantes ou dignas de admiração). E embora haja o esforço por equiparar-se às outras pessoas(padrão do grupo do qual faz(ou almeja fazer) parte), o resultado pode ser um sentimento pejorativo acerca de si mesmo afetando auto-estima e auto-confiança.
Preocupação consigo mesmo. Algumas pessoas, perto de outras pessoas, tornam-se extremamente sensíveis ao que estão fazendo, como se estivessem no centro do palco. Isso cria ansiedade e faz com que questionem cada movimento que executam. Fica-se com a atenção autocentrada, em particular sobre: “O que eu estou fazendo de errado?”. Isto pode causar uma espiral descendente de negatividade.

A timidez portanto desenvolve-se em torno de três componentes:
·         Excesso de autoconsciência (introversão).
·         Excesso de autoavaliação negativa (fraca autoimagem).
·         Excessiva autopreocupação (preocupação consigo mesmo).


Nota-se então que a introversão é condição necessária mas não suficiente para a timidez, que tem adicionado o fator insegurança à equação.


Depois desse exercício, tento explicar a mim mesmo as causas e efeitos do famigerado evento rotor de minha depressão prolongada:
Ao ser exposto e confrontado pela falta de conhecimento num determinado tópico, reagi com agressividade, acuado pelo pavor da exposição e abastecido pelo receio de afundar-me em ‘fraca autoimagem’. A partir dali, agora também perseguido pela ‘preocupação comigo mesmo’, tornei-me - como numa professia autorrealizável - tudo o que mais tentava evitar. Claro, tudo isso insuflado ainda mais pela agressividade proporcional do outro lado. A depressão seguiu-se como consequência inevitável.
Indo ainda mais longe, parece-me imediata a conclusão de que sou introvertido e que sofri das causas da timidez na tenra infância (não procuro culpados, though. Já passei dessa fase). Portanto, os componentes e condições estavam todos lá e tornei-me tímido.
Lutei contra isso e atingi, na maturidade, nível aceitável de autoconfiança - basicamente o antídoto para o introvertido vencer a timidez.
Constato porém que depois de anos isso talvez tenha se cristalizado e passei a sofrer de um efeito colateral indesejado: excesso de confiança. A arrogância que adveio sem dúvida potencializou ainda mais a sensação de autoconhecimento, que provou-se falsa, além de maquiar a timidez latente.


Diante de tal confusão, minha autoimagem ruiu. Meu castelo era de areia, no final das contas. Não me conhecia o suficiente nem tive a humildade de aceitar minhas falhas, por excesso de confiança.
O que veio depois, além da depressão, foi o recrudescimento da timidez e seus efeitos deletérios mais uma profunda falta de motivação.


Ao escrever essas linhas, me embrenho na tentativa de purgar o mal com palavras e retomar meu caminho. É imperativo prosseguir... não só como garantia da subsistência mas também na busca de um sentido maior, que descobri vacilava ou carecia de maior justificativa.
É claro que externamente sempre haverão culpados, que de certa forma podem iniciar seu processo de autoimplosão. Porém devemos também agradecê-los, ainda que desaprovemos frontalmente seus métodos, bullying e assédio ofensivo. Isto porque promovem à socapa um aprendizado e autoconhecimento que se bem digeridos tornar-se-ão estímulos a seu crescimento. Claro, caso você vença primeiro o trauma e humilhações do confronto e continue...
No meu caso, tal confrontação postou-me diante de minha incapacidade com figuras difíceis (e poderosas) e meu parco conhecimento de mim mesmo.

(...)

Conhece-te a ti mesmo ...
Na falta de um Oráculo de Delfos na vizinhança, levei meses para entender que necessitava olhar para dentro e me livrar da tentação comum de atribuir a responsabilidade a outrem. Ao quebrar a mão invisível que manipulava minha consciência, vi que criei à imagem e semelhança de um algoz externo minhas próprias amarras, e pior, alguém a quem atribuir a culpa e me eximir da inércia. Esse é um círculo vicioso da depressão.


Dito isso, paro de ruminar o acontecido e me livro da mágoa, porque como diria Chico, “apesar de você, amanhã há de ser outro dia...”.
Além do mais, continuo almejando a autorrealização e embora não consiga vislumbrar claramente o caminho para ela nesse momento, alguns indícios me apontam a direção e retomei a caminhada.
Não sei quando(se) vou alcançá-la... Mas tenho a certeza de que sempre estarei um passo mais próximo caso continue andando... Então ando... e ando... e ando...


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Figure: J. Finkelstein (translated to pt-BR by Felipe Sanches) - Based on http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Maslow%27s_hierarchy_of_needs.svg
[1]  Wahba, A., & Bridgewell, L. (1976). Maslow reconsidered: A review of research on the need 
hierarchy theory. Organizational Behavior and Human Performance, 15, 212-240. 
[2] Excerpts from Wikipédia

E la nave va (em Portugal intitulado O Navio) é um filme italiano de 1983 dirigido por Federico Fellini.

sábado, 12 de julho de 2014

Loa

Futebol e política se fundiram na ruindade.

Eis que flanando (tecnicamente morto) em meu limbo, sou salvo pelo Vander.
Ave Lee!


sexta-feira, 4 de julho de 2014

"Não li... e não gostei"

Da Dialética Erística de Schopenhauer aprendi o seguinte:

'Argumentum ad hominem (latim, argumento contra a pessoa) é uma falácia identificada quando alguém procura negar uma proposição com uma crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo. Um argumentum ad hominem é uma forte arma retórica, apesar de não possuir bases lógicas.

A falácia ocorre pois conclui sobre o valor da proposição sem examinar seu conteúdo, o que é absurdo.

O argumento contra a pessoa é uma das falácias caracterizadas pelo elemento da irrelevância, por concluir sobre o valor de uma proposição através da introdução, dentro do contexto da discussão, de um elemento que não tem relevância para isso, que neste caso é um juízo sobre o autor da proposição.

Pode ser agrupado também entre as falácias que usam o estratagema do desvio de atenção, ao levar o foco da discussão para um elemento externo a ela, que são as considerações pessoais sobre o autor da proposição.' [1]

Trata-se inequivocamente de uma falácia.
Eu, que a contragosto, claro, leio o Boff, o Quartim, o Safatle e uns tantos outros, confronto seus pontos de vista contra a lógica, a história, a filosofia, o Google, enfim…

Esse Google é mesmo de matar, não há mesmo chance do engodo caso queira pesquisar, estudar e dispender o  tempo necessário confrontando fontes e fatos.

Portanto, a priori, não mais invalido um argumento de antemão pelo atalho fácil do descredenciando da fonte. A menos que venha de um Delúbio ou do Zé… Ai também já seria demais. E embora escravos da ideologia (e não da lógica) sejam mesmo suspeitos compulsórios de seus pensamentos e opiniões - já que reféns de um silogismo às avessas onde a conclusão pré-fabricada (alinhada a seus interesses ideológicos) determina as premissas adequadas para justificá-la, e não o contrário -, ainda mantenho a boa fé inicial na leitura. Nunca se sabe... em meio ao lodaçal pode-se trombar com um diamante. Mas infelizmente, no mais das vezes só dou mesmo é com os burros n’água.


Todavia, ser confrontado sem ser compreendido, e mais, taxado de manipulado tendo como argumento de autoridade a falácia ad hominem no descredenciando de autores citados é mero jogo baixo. Não há possibilidade de debate produtivo quando toda sorte de estratagema erística pauta a discussão, ao invés da lógica.
É impossível ser compreendido caso o leitor simplesmente NÃO leia o que você escreveu. Se a partir de um prejulgamento ou dedução apressada o oponente discorra sobre o que ele ACHA que você escreveu (ou escreveria) com a prepotência de um vidente que antecipa seu pensamento antes mesmo do intróito, remido ainda do fardo maior de ser cuidadoso e averiguar fontes, conceitos e fatos, não estamos mais que num hospício, onde a despeito do barulho, o debate é inócuo e a própria voz não lhe parecerá mais que um grunhido ininteligível.
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Fonte: [1] Wikipédia