Há críticas à hierarquia das necessidades de Maslow.
Exemplos:
(1) Em sua
extensa revisão das pesquisas que são dependentes da teoria de Maslow, Wahba e Bridgewell[1] acharam
pouca evidência desta hierarquia de necessidades, ou mesmo da existência de
alguma hierarquia. [2] (2) O economista e filósofo chileno Manfred Max Neef tem argumentado que as necessidades humanas fundamentais são não-hierárquicas e são ontologicamente universais e invariáveis em sua natureza - parte da condição de ser humano. [2]
É fato... Talvez não haja mesmo hierarquia em direção à autorrealização. Pessoas podem estar realizadas ainda que não satisfeitas todas as necessidades na base da pirâmide. Regardless, o modelo é poderoso e permite inferências interessantes, caso o adotemos com a ressalva dos exemplos acima. Com efeito, inicio por Maslow a autoanálise premente, oxalá também fértil na gestação de explicação que me traga algum lenitivo. Afinal, creio em Victor Frankl e na "plenitude de sentido".
(...)
Presumo ter passado “incólume” pelas etapas hierarquicamente anteriores à Estima. Sinto-me pleno com relação a tais quesitos... at least for now.
No entanto, há quase dois anos patino no mesmo degrau e não alcanço o seguinte, acima.
Na verdade, como consequência, sinto-me longe da Realização Pessoal, embora isso somehow endosse Maslow e desminta alguns de seus detratores, já citados acima.
Adicionalmente, sofro também de uma espécie de cientificismo diletante, o que me torna um fã inveterado da causalidade.
Desconsidero por hora, no entanto (por mera ignorância e incompetência, diga-se de passagem), complicações filosóficas sobre determinismo ou livre-arbítrio, já que exteriores ao assunto que desejo explorar.
Buscando então causa(s) para minha frustração, olhando para trás no tempo, deparo-me com um evento, a ignição de minha tristeza e tento elucidar assim sua real causa e efeitos nefastos. Para tanto, talvez tenha que dar um salto pra dentro de mim e contar com o Dr Google como meu Virgílio.
Vem de minha infância um pavor obtuso do ridículo, da exposição. A despeito de minha mineirice(que talvez explicasse introversão mas não exatamente timidez), tem de haver outras causas.
O Dr Google me explica o seguinte :
Introversão(referência: https://www.psicologiamsn.com/2011/12/timidez-e-psicologia.html)
O conceito de introversão foi criado pelo psicólogo suíço C. G. Jung.
A psique, ou “alma”, tem desde a primeira infância duas atitudes possíveis: pode se voltar mais para o mundo interno, ou pode se voltar para o mundo externo. Com efeito, dois tipos de atitude (ou personalidade) afloram: o tipo introvertido e o tipo extrovertido.
A diferença entre timidez e introversão é que a segunda é uma atitude psíquica de introspecção, voltar-se para si mesmo. Ao invés da consciência olhar para fora, para o meio ambiente e para as outras pessoas, a psique prefere conhecer a si mesma, conhecer o seu próprio mundo de experiências internas. Mas isso não significa necessariamente timidez como veremos a seguir.
Timidez(referência: http://www.escolapsicologia.com/como-superar-a-timidez/)
Fraca autoimagem. Isto é especialmente verdade para pessoas que
sofreram experiências negativas de afronta e diminuição de si mesmas. Isso pode
levar à crença negativa nas qualidades pessoais (não são interessantes ou
dignas de admiração). E embora haja o esforço por equiparar-se às outras
pessoas(padrão do grupo do qual faz(ou almeja fazer) parte), o resultado pode
ser um sentimento pejorativo acerca de si mesmo afetando auto-estima e
auto-confiança.Preocupação consigo mesmo. Algumas pessoas, perto de outras pessoas, tornam-se extremamente sensíveis ao que estão fazendo, como se estivessem no centro do palco. Isso cria ansiedade e faz com que questionem cada movimento que executam. Fica-se com a atenção autocentrada, em particular sobre: “O que eu estou fazendo de errado?”. Isto pode causar uma espiral descendente de negatividade.
A timidez portanto desenvolve-se em torno de três componentes:
· Excesso de autoconsciência (introversão).
· Excesso de autoavaliação negativa (fraca autoimagem).
· Excessiva autopreocupação (preocupação consigo mesmo).
Nota-se então que
a introversão é condição necessária mas não suficiente para a timidez, que tem
adicionado o fator insegurança à equação.
Depois desse
exercício, tento explicar a mim mesmo as causas e efeitos do famigerado evento
rotor de minha depressão prolongada:
Ao ser exposto e
confrontado pela falta de conhecimento num determinado tópico, reagi com
agressividade, acuado pelo pavor da exposição e abastecido pelo receio de
afundar-me em ‘fraca autoimagem’. A partir dali, agora também perseguido pela
‘preocupação comigo mesmo’, tornei-me - como numa professia autorrealizável -
tudo o que mais tentava evitar. Claro, tudo isso insuflado ainda mais pela
agressividade proporcional do outro lado. A
depressão seguiu-se como consequência inevitável.Indo ainda mais longe, parece-me imediata a conclusão de que sou introvertido e que sofri das causas da timidez na tenra infância (não procuro culpados, though. Já passei dessa fase). Portanto, os componentes e condições estavam todos lá e tornei-me tímido.
Lutei contra isso e atingi, na maturidade, nível aceitável de autoconfiança - basicamente o antídoto para o introvertido vencer a timidez.
Constato porém que depois de anos isso talvez tenha se cristalizado e passei a sofrer de um efeito colateral indesejado: excesso de confiança. A arrogância que adveio sem dúvida potencializou ainda mais a sensação de autoconhecimento, que provou-se falsa, além de maquiar a timidez latente.
Diante de tal
confusão, minha autoimagem ruiu. Meu castelo era de areia, no final das
contas. Não me conhecia o suficiente nem tive a humildade de aceitar minhas
falhas, por excesso de confiança.
O que veio
depois, além da depressão, foi o recrudescimento da timidez e seus efeitos
deletérios mais uma profunda falta de motivação.
Ao escrever essas
linhas, me embrenho na tentativa de purgar o mal com palavras e retomar meu
caminho. É imperativo prosseguir... não só como garantia da subsistência mas
também na busca de um sentido maior, que descobri vacilava ou carecia de maior
justificativa.
É claro que
externamente sempre haverão culpados, que de certa forma podem iniciar
seu processo de autoimplosão. Porém devemos também agradecê-los, ainda que
desaprovemos frontalmente seus métodos, bullying
e assédio ofensivo. Isto porque promovem à socapa um aprendizado e
autoconhecimento que se bem digeridos tornar-se-ão estímulos a seu
crescimento. Claro, caso você vença primeiro o trauma e
humilhações do confronto e continue... No meu caso, tal confrontação postou-me diante de minha incapacidade com figuras difíceis (e poderosas) e meu parco conhecimento de mim mesmo.
(...)
Conhece-te a ti mesmo ...
Na falta de um Oráculo de Delfos na vizinhança, levei meses para entender que necessitava olhar para dentro e me livrar da tentação comum de atribuir a responsabilidade a outrem. Ao quebrar a mão invisível que manipulava minha consciência, vi que criei à imagem e semelhança de um algoz externo minhas próprias amarras, e pior, alguém a quem atribuir a culpa e me eximir da inércia. Esse é um círculo vicioso da depressão.
Dito isso, paro
de ruminar o acontecido e me livro da mágoa, porque como diria Chico, “apesar de você, amanhã há de ser outro dia...”.
Além do mais,
continuo almejando a autorrealização e embora não consiga vislumbrar claramente
o caminho para ela nesse momento, alguns indícios me apontam a direção e
retomei a caminhada. Não sei quando(se) vou alcançá-la... Mas tenho a certeza de que sempre estarei um passo mais próximo caso continue andando... Então ando... e ando... e ando...
[1] Wahba, A., & Bridgewell, L. (1976). Maslow reconsidered: A review of research on the need
hierarchy theory. Organizational Behavior and Human Performance, 15, 212-240.
[2] Excerpts f
E la nave va (em Portugal intitulado O Navio) é um filme italiano de 1983 dirigido por Federico Fellini.