Oi F, tudo bem?
Peguei-me aqui escrevendo a missiva à moda antiga, sinal irrefutável de que sou mesmo um velho, enfim. Transcrevo-a agora.
Mais que isso, sempre soube que sou melhor escrevendo. Penso melhor escrevendo, “falo” melhor escrevendo, explico-me melhor escrevendo. Projeto-me então no escritor que sempre quis ser... transcendendo assim. Mágica?
A partir de agora sou Strategos Aristides.
Sugiro que como leitora faça o mesmo. Migre por mim agora de F a Florence Cliff (alakazam... booom). Escale escarpas, derrube normas, arquétipos, falsos moralismos, rompa as amarras que nos prendem a regras, limites impostos por outrem. O papo aqui, embora entre duas pessoas reais - eu e você, tomará assim a forma de uma interlocução entre nossos alter-egos. Essa perspectiva liberta, provoca rearranjos em nossas crenças e convicções, for good, garanto. Florence Cliff não tem medo de nada, luta até esvaziar os pulmões, enfrenta, esperneia, grita, desvencilha-se de socos, desvia de balas, cães, cobras, lagartos, homens maus, ofensas... do diabo. Vem comigo, ande a meu lado...
Se bem fará não sei, mas que mal faria?
Pausa: perdão pelo inglês inserido aqui e ali, virou uma espécie de vício depois de 14 anos escrevendo assim em horário comercial. Nada de pedantismo... não com você. Aos outros não devo nada. Que me considerem pedante, até gosto. Estabelece uma fronteira e deixa-me longe deles e de seus faróis politicamente corretos, toda aquela sanha de bondade, altruísmo, cultura, empáfia sobre-humana doentia e louca. Eu apenas um homem simples, feliz e insignificante.
Mas voltando à vaca fria, deixe-me primeiro contar-lhe um pouco de mim.
Há mais de 35 anos pensei em ser um cientista, um físico ou um matemático. Anos depois, alvejado por minha incompetência e incurável indisciplina, sonhei ser um rockstar ou um ás do Jazz como fora Wes ou ainda é Toninho Horta. Mas a vida atropela. Casei, tive filhos. As coisas simplesmente aconteceram, baseadas em minhas escolhas e num mar caótico de variáveis que não pude controlar. Ninguém pode. Uns chamam de sorte, outros de azar, outros ainda dizem que é sina, ou carma.
Eu, metido a racional que sou, só vejo intempéries, a geopolítica e seus efeitos benéficos ou maléficos, ideologia, a loucura, a política, a tecnologia, a economia, uma miríade de fatores que só os utópicos insistem em não relevar (dai que tantas utopias tenham terminado em distopias ao longo da história).
Aprendi depois que para a criação de um modelo como objeto de apreensão da realidade, algo que permita simulações, estudo e predições, usa-se às vezes a condição ceteris paribus. Deixe-me explicar: reduz-se as variáveis às mais críticas e manipuláveis e mantêm-se as demais constantes ou inalteradas como se nunca mudassem, embora estejam ali, “causando”. Se não dependem diretamente de sua vontade, melhor considerá-las mesmo constantes, sem desprezá-las ou menosprezá-las. É uma forma de não perder tempo nem energia com elas, sendo pragmático e/ou realista.
Bem, embora imprecisa, considerando-se estritamente o caos absoluto dos fatores intervenientes, muito precisa considerando as condições controladas. Dai a beleza do modelo. Possibilita induções - ainda que limitando o número de variáveis - que permitem vislumbrar o resultado, antever um futuro. Uma máquina do tempo preditiva, diria. É assim que funcionou pra mim, pelo menos. Embora não pudesse controlar todas as variáveis, agarrei-me àquelas que demandavam apenas minha autonomia e considerei as demais constantes, esquadrinhando assim meu futuro - se maleporcamente é outra história. Mas escrevi minha vida à mão, não com a mão alheia, e disso tenho orgulho. Não de forma precisa, nem sem percalços, erros ou mudanças de plano. Mas com parcimônia e paciência, pavimentei minha estrada. E aqui estou à beira de algo que encasquetei há 20 e poucos anos atrás. Não sei - e nem interessa mais - se se efetivará ou não mas levando a vida ceteris paribus, agarrando-me ao que se podia controlar (minha vontade, determinação, força, espírito), cheguei, seja lá onde isso for (desde que seja onde se quer estar). Se não exatamente o ponto, bem próximo... dá pra ir a pé ;0).
Fato é que a vida é uma jornada perigosa, e é vital que aproveitemos cada batalha, tristeza, alegria, tudo. Hoje, por exemplo, depois de tudo uma sensação me abarca: subitamente o que quis por vinte e poucos anos está ali, embora ainda não possa tocar. E inevitavelmente olho para trás, desde o dia em que pus tal sandice em minha caixola até as encruzilhadas dos piores momentos, dos desvios do caminho às dores incuráveis, dos becos aparentemente sem saída às dúvidas, dos deleites das alegrias e dos filhos às dificuldades... Concluo enfim que tudo aquilo me trouxe até aqui.
Como tenho mesmo essa compulsão inevitável pelo caminho - meus pais me deram esse jeito de andar -, sigo...
E o caminho continua infinito, enquanto dure. É meu conforto, como foi o de meu pai... vou até o fim!!!
Agora conte-me sobre você, Florence Cliff. Seus anseios, desejos, quero saber. Preciso saber.
O tempo é curto e volto ao início, “enfim sou um homem velho”.
Um beijo florido.
Stragegos Aristides.